28 de set. de 2015

Novela e realidade em um mesmo plano


Por Lysiane Hargreaves Munhoz





Diferentemente de outras tramas da Rede Globo,a autora Lícia Manzo constrói suas narrativas de um jeito natural de forma que se assemelham a realidade. A novela das 18h,Sete Vidas (2015), retrata as novas reconfigurações familiares e aborda os inúmeros relacionamentos.
O plano de fundo da novela Sete Vidas é a história de Miguel (Domingos Montagner), homem solitário, que na juventude realizou doação anônima para um banco de sêmen que,sem saber, gerou seis filhos. Após se apaixonar por Lígia (Debora Bloch) e ficar sabendo que ela deseja formar uma família, Miguel decide viajar a Antártida. Durante a viagem, ele sofre um acidente e é dado como morto. Nesse meio tempo, os filhos gerados buscam a identidade de seu pai e acabam se conhecendo e formando uma nova família.



Falar sobre o cotidiano é a marca da autora e é muito bem exemplificada já na abertura de Sete Vidas criada e dirigida por Alexandre Romano. Pois há o cuidado de construir cenas que remetem a imagens de memórias afetivas. O clipe aliado com a música “What a wonderful world”, de Louis Armstrong, cantada por Tiago Iorc, dáidentidade à novela.

A trama é desacelerada, o roteiro não busca viradas mirabolantes em cada capítulo.Não existem histórias soltas, tudo é amarrado, dirigido e conduzido.A narrativa da novela se parece com crônica, pois retrata conflitos atuais de forma simples e sem perder a seriedade de temas como inseminação artificial, homossexualidade, separações, solidão, preconceitos. A crônica como essa novela tem a capacidade de fazer refletir optando pelo caminho da leveza, dos exemplos que aproximam a ideia do autor com a realidade. Os diálogos consistentes têm como único objetivo desenvolver a reflexão, pois, além de fazer os personagens questionarem suas vidas e escolhas, consegue provocarno público uma nova forma de olhar sobre a sua realidade. Foi também assim na primeira novela de Lícia Manzo A vida da Gente (2011), em que na telinha era contada a história de duas irmãs e os conflitos entre elas.

Muitos comparam a autora com Manoel Carlos, contudo, a forma como ela escreve é diferente, pois,muitas vezes, os personagens construídos por Manecoficam presosna condição social e não são retratados como indivíduos. As fórmulas de Manoel Carlos se prendem entre aconstrução de relacionamentos românticos e a rivalidade mocinho-vilão. Na obra de Lícia Manzo não existe um antagonista, pois a novela trata da humanidade e ultrapassar o clichê maniqueísta dos tipos de bem e mal. Há a preocupação em mostrar a vida de pessoas comuns com problemas comuns. Os personagens têm personalidade, pois não são tratados de forma rasa. Todos têm conflitos internos, problemas, fraquezas e virtudes. Lícia consegue fazer transparecer por meio da identidade de seus personagens as dualidades do ser humano.

O elenco contribui para a construção da novela. A atriz Regina Duarte que vive a professora Esther, apesar de ser coadjuvante na trama se destaca em cena, pois a forma como concebe os diálogos consegue emocionar e fazer refletir. Outra boa atuação é de Thiago Rodrigues, o qual vive Luís, pois percebemos o amadurecimento desse ator principalmente na cena em que o personagem explica aos filhos que sua família era formada por duas mães.

Sete Vidas agrada por conseguir trazer para a televisão histórias de pessoas reais. Além disso, implica na forma como a narrativa é construída, pois foge da ideia de triângulo amoroso, retratando a complexidade das relações humanas.

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