Por Lysiane Hargreaves
Munhoz
Diferentemente
de outras tramas da Rede Globo,a autora Lícia Manzo constrói suas narrativas de
um jeito natural de forma que se assemelham a realidade. A novela das 18h,Sete Vidas (2015), retrata as novas
reconfigurações familiares e aborda os inúmeros relacionamentos.
O
plano de fundo da novela Sete Vidas é
a história de Miguel (Domingos Montagner), homem
solitário, que na juventude realizou doação anônima para um banco de sêmen que,sem
saber, gerou seis filhos. Após se apaixonar por Lígia (Debora Bloch) e ficar sabendo que ela
deseja formar uma família, Miguel decide viajar a Antártida. Durante a viagem,
ele sofre um acidente e é dado como morto. Nesse meio
tempo, os filhos gerados buscam a identidade de seu pai e acabam se conhecendo
e formando uma nova família.
Falar sobre o cotidiano é a
marca da autora e é muito bem exemplificada já na abertura de Sete Vidas criada e dirigida por
Alexandre Romano. Pois há o cuidado de construir cenas que remetem
a imagens de memórias afetivas. O clipe aliado com a música “What a wonderful
world”, de Louis Armstrong, cantada por Tiago Iorc, dáidentidade à novela.
A trama é desacelerada, o roteiro não busca
viradas mirabolantes em cada capítulo.Não
existem histórias soltas, tudo é amarrado, dirigido e conduzido.A narrativa da novela se parece
com crônica, pois retrata conflitos atuais de forma simples e sem perder a seriedade de temas
como inseminação artificial,
homossexualidade, separações, solidão, preconceitos. A crônica como essa novela
tem a capacidade de fazer refletir optando pelo caminho da leveza, dos exemplos
que aproximam a ideia do autor com a realidade. Os diálogos consistentes
têm como único objetivo desenvolver a reflexão, pois, além de fazer os
personagens questionarem suas vidas e escolhas, consegue provocarno público uma
nova forma de olhar sobre a sua realidade. Foi também assim na primeira novela
de Lícia Manzo A vida da Gente (2011),
em que na telinha era contada a história de duas irmãs e os conflitos entre
elas.
Muitos
comparam a autora com Manoel Carlos, contudo, a forma
como ela escreve é diferente, pois,muitas vezes, os personagens construídos por
Manecoficam presosna condição social e não são retratados como indivíduos. As
fórmulas de Manoel Carlos se prendem entre aconstrução de relacionamentos
românticos e a rivalidade mocinho-vilão. Na obra de Lícia Manzo não existe um
antagonista, pois a novela trata da humanidade e ultrapassar o clichê
maniqueísta dos tipos de bem e mal. Há a preocupação em mostrar a vida de
pessoas comuns com problemas comuns. Os personagens têm personalidade, pois não
são tratados de forma rasa. Todos têm conflitos internos, problemas, fraquezas
e virtudes. Lícia consegue fazer transparecer por meio da identidade de seus
personagens as dualidades do ser humano.
O
elenco contribui para a construção da novela. A atriz Regina Duarte que vive a
professora Esther, apesar de ser coadjuvante na trama se destaca em cena, pois
a forma como concebe os diálogos consegue emocionar e fazer refletir. Outra boa
atuação é de Thiago Rodrigues, o qual vive Luís, pois percebemos o
amadurecimento desse ator principalmente na cena em que o personagem explica
aos filhos que sua família era formada por duas mães.
Sete Vidas agrada por conseguir trazer para
a televisão histórias de pessoas reais. Além disso, implica na forma como a
narrativa é construída, pois foge da ideia de triângulo amoroso, retratando a
complexidade das relações humanas.
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