29 de set. de 2015

Disco de estreia da Dingo Bells, "Maravilhas da vida moderna" aos poucos ganha espaço no cenário nacional



Por Natalia Henkin


Dois meses após o lançamento de seu primeiro álbum, a Dingo Bells viaja a São Paulo para fazer o show de estreia na maior cidade do país. Permeado por uma música alegre, Maravilhas da vida moderna encantou público e crítica, explorando em suas composições melancólicas questionamentos contemporâneos.

Há dez anos, ainda no colégio, Rodrigo Fischmann (voz, bateria e percussões), Diogo Brochmann (voz, guitarra e teclado) e Felipe Kautz (voz e baixo) formaram uma Dingo Bells muito diferente da que vemos hoje. Dedicados mais aos palcos do que aos estúdios, em 2010 lançaram um EP homônimo, com músicas que Fischmann diz serem “recortes de momento e acaso”. Cheio de energia e jovialidade, o EP fica para trás de Maravilhas da vida moderna. O novo trabalho atesta o amadurecimento de seus integrantes, que, perto dos trinta anos, propõem uma reflexão sobre expectativas e frustrações, ideais e realidades com as quais nos deparamos ao longo da vida.



A concepção do disco começa antes mesmo de apertar o play. Em formato 24x24, a encarte do CD remete ao de um disco de vinil. Dentro dele, quatro artes gráficas compõem diferentes capas que, em preto e branco, iniciam a construção o conceito da obra. Em uma delas, um dinossauro de madeira está pegando fogo. A mesma metáfora da extinção ressurge na quarta faixa do álbum, “Dinossauros”. Hoje eu extinto / já nem me lembro como era no começo / quando sabia tudo o que me esperava / e acreditava ser alguém especial é o último verso da música, que começa com a voz e o violão de Diogo Brochmann e cresce de maneira muito interessante, apresentando uma dinâmica musical forte, como todas as outras faixas do disco. Assim como os dinossauros, temos expectativas que não se cumprem, e somos surpreendidos com uma realidade muito mais complexa. Reflexão parecida é feita na música seguinte, “Maria Certeza”. No dia de seu casamento, pelo qual esperou a vida inteira, Maria é abandonada no altar. A excelente e peculiar voz de Rodrigo Fischmann acompanha a alegria e a tristeza da personagem, que carrega o peso de uma obrigação e a decepção com o destino.





A mistura de sons e harmonias que o álbum traz tem referências de Beach Boys a Crosby, passando por Caetano Veloso e Clube da Esquina. Ao ouvir Maravilhas da vida moderna, ouvimos também Tim Maia, Mutantes, Stevie Wonder: há muito groove e blackmusic, rock e MPB; tudo isso sintetizado em um pop de muito bom gosto, sensível e repleto de sonoridades que arremata a obra de maneira singular. Quase todas as músicas recebem participações especiais: nomes consagrados, como Julio Rizzo, no trombone, e novos, como Carina Levitan, que faz percussões e ruídos em Maria Certeza, adicionando à canção um tom irônico e, ao mesmo tempo, melancólico.





Viabilizado por financiamento coletivo, Maravilhas da vida moderna é com certeza um dos melhores CDs do ano. Depois tocar no Japão e abrir o show de Ringo Starr, estava mais que na hora de a Dingo Bells estourar. As previsões da banda são de mais shows de lançamento do disco em capitais como Rio de Janeiro e Belo Horizonte.





Maravilhas da vida moderna
Dingo Bells, 2015
R$ 30,00
disponível para download em www.dingobells.com.br

0 comentários:

Postar um comentário