7 de dez. de 2011

Neighborhoods: o amadurecimento do Blink 182

Por Vicente Andrade de Carvalho

Da esquerda para a direita: Mark Hoppus, Tom DeLonge e
Travis Barker/ Crédito: Ricardo de Aratanha/Los Angeles Times
“Algumas pessoas querem o Blink 182 da época de ‘What’s My Age Again?’ usando bermudas da Dickies e camisetas da Hurley, correndo por aí sendo bobos e gritando. Nós sempre tentamos manter a cabeça baixa e fazer o nosso.”
Mark Hoppus, vocalista e baixista do Blink 182 em declaração dada pouco antes do lançamento de “Neighborhoods”

Em 2005, o Blink 182 anunciava um hiato nos trabalhos da banda, motivado por divergências entre os seus integrantes. O baterista Travis Baker e o baixista e vocalista Mark Hoppus foram para um lado e formaram o + 44 - que teve o único álbum lançado em 2006 - enquanto o outro vocal, Tom Delonge dava início ao Angels and Airwaves, com 4 discos lançados. Foi quando um acidente de avião em 2008 quase tirou a vida de Travis. O suficiente para os outros dois integrantes da banda deixarem suas diferenças de lado e retomar o Blink 182 um ano depois.


Com uma pausa de 4 anos, 5 discos lançados em meio a projetos paralelos, um baita susto, várias rugas e pés de galinha nas faces dos não tão jovens roqueiros e eis que em outubro de 2011 é finalmente lançado o “Neighborhoods”. Já adianto que apesar do nome, o álbum não parece conviver na mesma vizinhança dos discos anteriores.

Evidencio isso lembrando que o Blink 182 é uma das bandas expoentes de pop punk surgidas nos anos 90 na Califórnia junto a grupos como o Green Day e Offspring. Sua proposta ignorava alguns dos pilares do velho punk rock, como o engajamento político traduzido através de ideologias anarquistas e revolucionárias e a agressividade, tanto no sentido visual como sonoro. O que permanece é a simplicidade das músicas, com poucos acordes, a velocidade com que eles são tocados. Andando lado a lado com o sucesso comercial, as canções do gênero tem como marca a capacidade de agradar um grande número de pessoas, algo com o qual o velho punk não se preocupava. As letras das músicas passam a abordar temáticas relacionadas ao universo adolescente, como relacionamentos, diversão, etc. E esses elementos traduzem bem a sonoridade dos álbuns anteriores, entre eles “Enema of the State” (1999) e “Take Off Your Pants and Jacket” (2001), considerados os melhores da banda.

Depois de ouvir o “Neighborhoods” por incontáveis vezes, confesso que não consigo imaginar nenhum videoclipe das faixas desse disco expressando justamente o que grande parte dos vídeos da banda trazia que era o bom humor, o sarcasmo, a diversão adolescente. Qual é o fã da banda que não lembra do “All the Small Things”, por exemplo, em que o Blink 182 tirava um sarro com as boy bands e artistas do universo pop como o Backstreet Boys e Britney Spears? Pois é, algo como esse vídeo me parece impensável no momento atual do grupo. A banda amadureceu. E no lugar do punk pop descompromissado com as letras das músicas, acordes simples e rápidos, aparece um trabalho que reflete o envelhecimento do Blink 182. As mensagens trazidas nas canções refletem um tom de seriedade, uma preocupação com o sentido das letras e o som da guitarra é mais pesado, grave e cadenciado, contrastando com os trabalhos anteriores que traziam uma sonoridade mais leve e com alternância contínua de acordes.

Mesmo com essas mudanças, afirmo que isso não significa que o novo álbum seja ruim, pelo contrário. Quem gostou do trabalho de Tom com o Angels and Airwaves vai apreciar com certeza pois a influencia desse período é evidente, a começar pela evolução técnica da voz de Tom, predominantemente melódica e se afastando levemente dos agudos por vezes desafinados dos primeiros discos. De quebra, a alternância entre as vozes de Mark e Tom ainda é um dos pontos fortes da banda, além de toda a habilidade do inspirado Travis. Se você ouvir o disco esperando que ele seja fiel à sonoridade dos anteriores poderá decepcionar-se, como declarou Mark Hoppus pouco antes do lançamento do álbum. Se a intenção não é esta, a tendência é que aprecie fazer parte da “vizinhança”.

0 comentários:

Postar um comentário