14 de jul. de 2014

Xscape – Michael Jackson não morreu!


Foto: Reprodução
Por Maitê König


Pelo menos não para as gravadoras responsáveis pelo material do cantor. No dia 18 de maio, ficamos admirados ao ver, em uma apresentação do  Billboard Music Awards 2014, Michael Jackson cantando e dançando uma de suas músicas novas, “Slave to the Rhythm". Em um enorme telão, o holograma de Michael, diga-se de passagem, em ótima forma, fez toda a plateia o aplaudir de pé. Os hologramas, tão em moda atualmente, disputam lado a lado com os álbuns póstumos a condição de fazer um artista já falecido mais vivo do que nunca. Xscape, a segunda compilação póstuma de Michael Jackson, tornou-se o décimo álbum oficial de Michael Jackson e atingiu o primeiro lugar no Reino Unido. E ao que parece, ainda há muito material inédito do rei pop para ser lançado.




            O primeiro pensamento que vem a cabeça quando uma gravadora lança um disco póstumo é quase sempre “só podem estar querendo ganhar mais dinheiro em cima do finado artista.” Casos de cantores que vendem como água e faturam, ainda mais, depois de sua morte não é assunto novo no universo musical. Assim como álbuns que fazem um apanhado de material inédito e são lançados, logo ou muito tempo após a morte de alguns ídolos. Dentro dos exemplos, podemos citar discos mais antigos como Pearl  de 1970, que apareceu nas lojas apenas três meses após a morte de Janis Joplin e foi o maior sucesso de sua carreira, Milk & Honey de John Lennon e Yoko Ono, lançado em 1984, quatro anos após o assassinato do ex-Beatle e, ainda, The Cry of Love de Jimmy Hendrix em 1971. No caso do guitarrista, o primeiro de 55 trabalhos que surgiriam após sua morte.     Entre os álbuns póstumos de artistas mais atuais, podemos lembrar de Johnny Cash, que tem diversos discos lançados após seu falecimento em 2003 ou, ainda, de uma artista mais recente tão talentosa quanto doida. Lioness: Hidden Treasures da inglesa Amy Winehouse surgiu em 2011, mesmo ano de sua morte por overdose Por sinal, quando a morte de Amy foi anunciada, as vendagens de CDs da cantora aumentaram 37 vezes, alcançando a marca de 1 milhão de cópias nas duas primeiras semanas (Michael Jackson vendeu 4 milhões em uma semana). E como não lembrar do faturamento estrondoso após o falecimento do rei Elvis Presley. O cantor já se foi há  37 anos, mas ainda hoje vende milhões e, em 2010, até liderou a lista de celebridades que mais lucraram após a morte. Em 2013, o primeiro lugar da lista ficou com Michael Jackson. Apenas do ano de 2012 até 2013, os familiares do cantor faturaram US$ 160 milhões com o material produzido por Jackson, rendendo ao todo, mais de US$ 600 milhões desde sua morte em 2009, mais que qualquer outro artista vivo nesse mesmo período.
            Xscape de Michael Jackson não foge à regra do “estamos querendo faturar”, porém o novo álbum do cantor carrega , para a felicidade dos fãs nostálgicos, um pouco da majestade do eterno rei do pop. Contudo, nem tudo são preciosidades e remetem a bons momentos do cantor nas oito faixas da compilação. O primeiro CD póstumo do cantor lançado em 2010, Michael, continha composições perdidas de 1982 até 2009 que mais pareciam um amontoado de sobras, que mesmo não parecendo caseiras, não faziam muito sentido juntas. O álbum tentava se modernizar por meio de parcerias com artistas como Akon e 50 Cent, mas acusação de que a voz utilizada no CD nem era de Michael Jackson e sim, de um imitador, causou algum estrago. As suspeitas foram desmentidas, porém a credibilidade do disco ficou em baixa vendendo apenas 540 mil cópias, um número relativamente baixo para um astro como Jackson.
            Xscape, o novo álbum póstumo de Michael Jackson percorre faixas que ficaram perdidas e não entraram em nenhum álbum do cantor durante as décadas de 1980 e 1990. Contudo, diferentemente  da compilação anterior, as canções parecem ter recebido um tratamento e um esforço bem maior. Quem ajuda a dar uma roupagem mais moderna às canções são diversos produtores, entre eles, L.A. Reid (Rihanna, Justin Bieber, Mariah Carey), Darkchild (Whitney Houston, Jennifer Lopez, Britney Spears ), Stargate (Beyoncé, Selena Gomez, Ne-yo) e Timbaland (Jay-z, Justin Timberlake, Madonna). Mesmo com diversas produções distintas, Xscape é um disco que funciona bem como um todo e que mantém em evidência um dos pontos altos de Michael Jackson: a voz. A participação do  artista no álbum não se resume apenas em cantar. Além de ter ajudado a produzir a maioria das músicas antes de sua morte, ele também compôs seis da oito canções. Ao que tudo indica, a discografia de Michael ainda vai aumentar bastante. Em uma entrevista à revista Rolling Stone, o produtor Rodney Jerkins (Dakchild), falou sobre a possibilidade de ao menos oito álbuns póstumos de Michael Jackson serem lançados nos próximos anos.

Faixa a Faixa
           
            De cara, já somos apresentados para “Lover Never Felt So Good”, música que ganhou videoclipe e está tocando nas rádios do mundo inteiro. Sabe aquela música que te deixa um sorriso no rosto ou é praticamente impossível não movimentar alguma parte do corpo? Essa é a melhor descrição para a primeira música do álbum. Composta no final dos anos 1970, em uma parceria de Michael com o experiente Paul Anka, a canção não nega a década em que surgiu com uma batida deliciosa soul e, ao mesmo tempo, disco. Se estivesse no disco Of The Wall de 1979, de forma alguma estaria deslocada, lembrando bastante, inclusive, a ótima “Rock With You”. O refrão é completamente grudento mas muito agradável. Desafio alguém a ouvir três vezes seguidas a música e não ficar cantarolando o resto do dia. Na versão Deluxe do CD, a canção também ganha uma parceria com o cantor Justin Timberlake. O videoclipe é com  essa versão duo em um tiro certeiro para conquistar o público mais jovem. O cantor é considerado a maior aposta de futuro sucessor de rei do pop. Se será ou não, só o tempo dirá.
            “Chicago” tem uma batida pop mais cafona e eletrônica, lembrando a última fase musical de Michael que pode ser escutada no regular e com poucos hits, Invincible de 2001. Os vocais gritados  e desesperados  no refrão, típicas de algumas canções do cantor, salvam a música, porém não combinam com as partes mais suaves. Os ânimos se acalmam na canção seguinte “Loving You”, que passa pelo pop e o R&B. Contudo, deixa uma sensação incomoda de que o produtor Timbaland pesou a mão nas batidas eletrônicas tornando a canção algo esquecível dos anos 90.  “A Place With No Name” já começa com os gemidos clássicos de Michael Jackson e tem um refrão totalmente pegajoso. Porém, as batidas remetem a mais do mesmo tornando a música apenas regular. Essa foi a primeira música do álbum a vazar logo após a morte do astro.
            “Slave To The Rhythm” começa muito bem criando um ar de mistério para já cair em uma música totalmente dançante, com Michael em ótima forma vocal. Apesar dos arranjos eletrônicos um pouco exagerados (olha o Timbaland aí de novo), é uma canção forte e que tem grande potencial radiofônico. Lembrando que em 2013 essa música ganhou uma versão em parceria com Justin Bieber, mas que não foi nem considerada oficial e nem está na versão Deluxe do álbum. Ponto positivo para a gravadora.
            Em um álbum de Michael Jackson não poderia faltar, além de gritos agudos e muitas batidas dançantes, uma canção de cunho social. “Do You Know Where Your Children Are” reúne essas três características e segue a linha de outras músicas como “They Don't Care About Us”, “Black or White” ou “Earth Song”. Os sintetizadores são pesados e um pouco repetitivos (Timbaland!!!), mas a letra é muito interessante, algo como um pedido para os pais cuidarem dos seus filhos. Uma parte da letra diz  “She wrote that she is tired of step-daddy using her. Saying that he'll buy her things, while sexually abusing her” (Ela escreveu que ela está cansada do padrasto usando-a. Diz que vai comprar as coisas dela enquanto a abusar sexualmente). Uma letra polêmica na voz de Michael Jackson, já que não há como não fazer alguma relação com as acusações que o cantor sofreu por abuso sexual de crianças e que foram constantemente negadas.
            “Blue Gangsta” é de longe a pior música do disco, mesmo com a mão de praticamente todos os produtores que participaram da montagem de Xscape. As batidas lembram uma música desconhecida de alguma boy band dos anos 90 e todo o conjunto incomoda um pouco aos ouvidos. Já a última faixa, que dá nome ao álbum, é a cara do rei do pop. Ponto positivo para o produtor Darkchild que manteve a essência de Michael em total sintonia com os sintetizadores e parafernálias eletrônicas moderna. “ Xcape” poderia perfeitamente estar em um álbum da década de 1990 do cantor e fazer sucesso nas pistas de dança. O conselho é escutar o formato Deluxe do álbum que tem todas as versões originais das músicas, antes da nova roupagem dos produtores.


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