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Por Maitê König
Pelo menos não para as gravadoras
responsáveis pelo material do cantor. No dia 18 de maio, ficamos admirados ao
ver, em uma apresentação do Billboard
Music Awards 2014, Michael Jackson cantando e dançando uma de suas músicas
novas, “Slave to the Rhythm". Em um enorme telão, o holograma de Michael,
diga-se de passagem, em ótima forma, fez toda a plateia o aplaudir de pé. Os
hologramas, tão em moda atualmente, disputam lado a lado com os álbuns póstumos
a condição de fazer um artista já falecido mais vivo do que nunca. Xscape, a
segunda compilação póstuma de Michael Jackson, tornou-se o décimo álbum
oficial de Michael Jackson e atingiu o primeiro lugar no Reino Unido. E ao que
parece, ainda há muito material inédito do rei pop para ser lançado.
O primeiro pensamento que vem a cabeça quando uma
gravadora lança um disco póstumo é quase sempre “só podem estar querendo ganhar
mais dinheiro em cima do finado artista.” Casos de cantores que vendem como
água e faturam, ainda mais, depois de sua morte não é assunto novo no universo
musical. Assim como álbuns que fazem um apanhado de material inédito e são
lançados, logo ou muito tempo após a morte de alguns ídolos. Dentro dos
exemplos, podemos citar discos mais antigos como Pearl de 1970, que apareceu nas lojas apenas três
meses após a morte de Janis Joplin e foi o maior sucesso de sua carreira, Milk
& Honey de John Lennon e Yoko Ono, lançado em 1984, quatro anos após o
assassinato do ex-Beatle e, ainda, The Cry of Love de Jimmy
Hendrix em 1971. No caso do guitarrista, o primeiro de 55 trabalhos que
surgiriam após sua morte. Entre os
álbuns póstumos de artistas mais atuais, podemos lembrar de Johnny Cash, que
tem diversos discos lançados após seu falecimento em 2003 ou, ainda, de uma
artista mais recente tão talentosa quanto doida. Lioness: Hidden Treasures da
inglesa Amy Winehouse surgiu em 2011, mesmo ano de sua morte por
overdose Por sinal, quando a morte de Amy foi anunciada, as vendagens de
CDs da cantora aumentaram 37 vezes, alcançando a marca de 1 milhão de cópias
nas duas primeiras semanas (Michael Jackson vendeu 4 milhões em uma semana). E
como não lembrar do faturamento estrondoso após o falecimento do rei Elvis
Presley. O cantor já se foi há 37 anos,
mas ainda hoje vende milhões e, em 2010, até liderou a lista de celebridades
que mais lucraram após a morte. Em 2013, o primeiro lugar da lista ficou com
Michael Jackson. Apenas do ano de 2012 até 2013, os familiares do cantor
faturaram US$ 160 milhões com o material produzido por Jackson, rendendo ao
todo, mais de US$ 600 milhões desde sua morte em 2009, mais que qualquer outro
artista vivo nesse mesmo período.
Xscape de Michael Jackson não foge à regra do
“estamos querendo faturar”, porém o novo álbum do cantor carrega , para a
felicidade dos fãs nostálgicos, um pouco da majestade do eterno rei do pop.
Contudo, nem tudo são preciosidades e remetem a bons momentos do cantor nas
oito faixas da compilação. O primeiro CD póstumo do cantor lançado em 2010, Michael,
continha composições perdidas de 1982 até 2009 que mais pareciam um amontoado
de sobras, que mesmo não parecendo caseiras, não faziam muito sentido juntas. O
álbum tentava se modernizar por meio de parcerias com artistas como Akon e 50
Cent, mas acusação de que a voz utilizada no CD nem era de Michael Jackson e
sim, de um imitador, causou algum estrago. As suspeitas foram desmentidas,
porém a credibilidade do disco ficou em baixa vendendo apenas 540 mil cópias,
um número relativamente baixo para um astro como Jackson.
Xscape, o novo álbum
póstumo de Michael Jackson percorre faixas que ficaram perdidas e não entraram
em nenhum álbum do cantor durante as décadas de 1980 e 1990. Contudo,
diferentemente da compilação anterior,
as canções parecem ter recebido um tratamento e um esforço bem maior. Quem
ajuda a dar uma roupagem mais moderna às canções são diversos produtores, entre
eles, L.A. Reid (Rihanna, Justin Bieber, Mariah Carey), Darkchild (Whitney
Houston, Jennifer Lopez, Britney Spears ), Stargate (Beyoncé, Selena Gomez,
Ne-yo) e Timbaland (Jay-z, Justin Timberlake, Madonna). Mesmo com diversas
produções distintas, Xscape é um disco que funciona bem como um todo e que
mantém em evidência um dos pontos altos de Michael Jackson: a voz. A
participação do artista no álbum não se
resume apenas em cantar. Além de ter ajudado a produzir a maioria das músicas
antes de sua morte, ele também compôs seis da oito canções. Ao que tudo indica,
a discografia de Michael ainda vai aumentar bastante. Em uma entrevista à
revista Rolling Stone, o produtor Rodney Jerkins (Dakchild), falou sobre
a possibilidade de ao menos oito álbuns póstumos de Michael Jackson serem
lançados nos próximos anos.
Faixa a Faixa
De cara, já somos apresentados para “Lover Never Felt So
Good”, música que ganhou videoclipe e está tocando nas rádios do mundo inteiro.
Sabe aquela música que te deixa um sorriso no rosto ou é praticamente
impossível não movimentar alguma parte do corpo? Essa é a melhor descrição para
a primeira música do álbum. Composta no final dos anos 1970, em uma parceria de
Michael com o experiente Paul Anka, a canção não nega a década em que surgiu
com uma batida deliciosa soul e, ao mesmo tempo, disco. Se
estivesse no disco Of The Wall de 1979, de forma alguma estaria
deslocada, lembrando bastante, inclusive, a ótima “Rock With You”. O refrão é
completamente grudento mas muito agradável. Desafio alguém a ouvir três vezes
seguidas a música e não ficar cantarolando o resto do dia. Na versão Deluxe
do CD, a canção também ganha uma parceria com o cantor Justin Timberlake. O
videoclipe é com essa versão duo em um
tiro certeiro para conquistar o público mais jovem. O cantor é considerado a
maior aposta de futuro sucessor de rei do pop. Se será ou não, só o tempo dirá.
“Chicago” tem uma batida pop mais cafona e eletrônica,
lembrando a última fase musical de Michael que pode ser escutada no regular e
com poucos hits, Invincible de 2001. Os vocais gritados e desesperados no refrão, típicas de algumas canções do
cantor, salvam a música, porém não combinam com as partes mais suaves. Os
ânimos se acalmam na canção seguinte “Loving You”, que passa pelo pop e o
R&B. Contudo, deixa uma sensação incomoda de que o produtor Timbaland pesou
a mão nas batidas eletrônicas tornando a canção algo esquecível dos anos
90. “A Place With No Name” já começa com
os gemidos clássicos de Michael Jackson e tem um refrão totalmente pegajoso.
Porém, as batidas remetem a mais do mesmo tornando a música apenas regular.
Essa foi a primeira música do álbum a vazar logo após a morte do astro.
“Slave To The Rhythm” começa muito bem criando um ar de
mistério para já cair em uma música totalmente dançante, com Michael em ótima
forma vocal. Apesar dos arranjos eletrônicos um pouco exagerados (olha o
Timbaland aí de novo), é uma canção forte e que tem grande potencial
radiofônico. Lembrando que em 2013 essa música ganhou uma versão em parceria
com Justin Bieber, mas que não foi nem considerada oficial e nem está na versão
Deluxe do álbum. Ponto positivo para a gravadora.
Em um álbum de Michael Jackson não poderia faltar, além
de gritos agudos e muitas batidas dançantes, uma canção de cunho social. “Do
You Know Where Your Children Are” reúne essas três características e segue a
linha de outras músicas como “They Don't Care About Us”, “Black or White” ou
“Earth Song”. Os sintetizadores são pesados e um pouco repetitivos
(Timbaland!!!), mas a letra é muito interessante, algo como um pedido para os
pais cuidarem dos seus filhos. Uma parte da letra diz “She wrote that she is tired of step-daddy
using her. Saying that he'll buy her things, while sexually abusing her” (Ela
escreveu que ela está cansada do padrasto usando-a. Diz que vai comprar as
coisas dela enquanto a abusar sexualmente). Uma letra polêmica na voz de
Michael Jackson, já que não há como não fazer alguma relação com as acusações
que o cantor sofreu por abuso sexual de crianças e que foram constantemente
negadas.
“Blue Gangsta” é de longe a pior música do disco, mesmo
com a mão de praticamente todos os produtores que participaram da montagem de Xscape.
As batidas lembram uma música desconhecida de alguma boy band dos anos
90 e todo o conjunto incomoda um pouco aos ouvidos. Já a última faixa, que dá
nome ao álbum, é a cara do rei do pop. Ponto positivo para o produtor Darkchild
que manteve a essência de Michael em total sintonia com os sintetizadores e
parafernálias eletrônicas moderna. “ Xcape” poderia perfeitamente estar em um
álbum da década de 1990 do cantor e fazer sucesso nas pistas de dança. O
conselho é escutar o formato Deluxe do álbum que tem todas as versões
originais das músicas, antes da nova roupagem dos produtores.
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