Por Maria Fernanda Cavalcanti
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| Foto: Ariel Martini/Revista Noize |
A caminhada, no entanto, já havia começado desde muito cedo. Nascido em abril de 1982 em Guaianases, Zona Leste de São Paulo, o músico cresceu ao lado da mãe, ouvinte de rádio popular e fã de novelas, e do pai Manoel Jeneci, pernambucano, apaixonado por Roberto Carlos e autodidata que sempre ganhou a vida consertando aparelhos eletrônicos e instrumentos musicais. Foi quase inevitável o pequeno Marcelo esbarrar nos acordeons espalhados pela casa e iniciar, assim, seus próprios acordes. Também o piano virou sua grande paixão, por influência do pai que gostaria de vê-lo se tornar um renomado pianista de jazz.
Em 2000, Seu Manoel soube por frequentadores de sua oficina que Chico César procurava um músico para tocar sanfona e piano em sua turnê internacional. Foi quase um chamado. Marcelo tocava ambos, mas treinava em sanfonas que os clientes do pai deixavam para consertar, pois não tinha seu próprio instrumento. O problema foi resolvido por um dos habitués da oficina, Dominguinhos, que resolveu presentear o menino com uma peça de sua coleção. Com instrumentos próprios, apresentou-se a Chico César e logo estava tirando o passaporte. Jeneci, então com 17 anos, iniciava seu primeiro trabalho como músico profissional, com a sanfona do mestre, ao lado de um grande músico popular.
Depois de três meses viajando entre Europa e Estados Unidos, o menino que havia deixado a vida pacata do bairro pobre da zona leste de São Paulo já não era mais o mesmo. "Minha mãe diz que quando me viu chegar no saguão do aeroporto, ela já tinha perdido o filho dela, aquele que ela segurava para ela", diz. Segundo o próprio bem-humorado músico conta, esse foi o grande divisor de águas para o seu futuro profissional. "Costumo dizer que o Chico César salvou minha vida. Viajei em um momento que já estava sendo treinado para levar uma vida muito pacata, num bairro pequeno de São Paulo, indo para a igreja, e já tinha uma namorada certa para casar. Aí eu saí fora e nunca mais voltei”. E não voltou mesmo, só voou mais alto.
O voo para o encantamento
O instrumentista não seguiu o caminho do jazz, como era o desejo do pai, e tampouco abraçou os ritmos nordestinos de suas raízes. Suas músicas são inspiradas em um cenário totalmente urbano que fala com o coração. Hoje com 31 anos, elogiado por críticos e músicos consagrados como Sérgio Martins e Arnaldo Antunes, o jovem ganhou destaque escolhendo palavras para músicas com um dom de quem lavra a terra com tanto amor que colhe só poesia. Foi compondo que o instrumentista arrebatou parcerias com grandes nomes da música brasileira e começou a escrever o seu entre os principais construtores da nova MPB.
Além de compor canções com o próprio Chico César, Jeneci assina músicas com Vanessa da Mata – o hit “Amado”, que foi trilha de novela da Rede Globo e uma das músicas mais tocadas de 2009 –, Zé Miguel Wisnik e Paulo Neves (“Tempestade Emocional”), Luiz Tatit (“Por Que Nós?”) e Arnaldo Antunes (“Longe” e “Quarto de Dormir”). Zélia Duncan, que gravou canções inéditas de Jeneci em seu último cd, engrossa o coro dos fãs e parceiros do também multiinstrumentista.
O primeiro álbum próprio de Marcelo Jeneci veio em 2010, com 28 anos e uma vasta vivência e bagagem musical. Intitulado “Feito pra Acabar”, com o selo da Som Livre, o disco tem linguagem e arranjos apurados. As treze faixas autorais, a maioria em parceria com nomes já conhecidos do público, marcaram a primeira e rica safra de composições originais do paulistano. Das treze músicas de “Feito Pra Acabar”, cinco contam com arranjos do também instrumentista e compositor Arthur Verocai, responsável por regências em discos de nomes como Marcos Valle, Gal Costa, Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor, Ivan Lins e Elizeth Cardoso. No disco de Jeneci, estão sob a batuta do carioca de 65 anos as músicas “Feito Pra Acabar” e “Quarto de Dormir”, ambas com orquestra; e “Felicidade”, “Tempestade Emocional” e “Por Que Nós”, estas com arranjos de cordas.
O encanto cresce
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| No palco com a parceira Laura Lavieri (Foto: Divulgação) |
"Acho que a carreira de Jeneci será brilhante. Ele faz parte de uma geração que vai representar a vitória de tudo aquilo em que eu acreditava quando comecei - o lirismo, a linguagem doce do piano. Ele será meu parceiro no futuro, com certeza", opina Guilherme Arantes, uma das grandes referências de Marcelo Jeneci, em entrevista à Revista Bravo!.
A parceria com a cantora Laura Lavieri, de 23 anos, também trouxe uma doçura e uma harmonia ao primeiro cd do paulistano, que há tempos a música brasileira não oferecia a quem estava pronto para se derreter em acordes românticos, mas não ingênuos. Nestes três anos, Jeneci aproveitou para levar o encantamento aos quatro cantos do Brasil, com uma turnê nacional movimentada, passando pelas principais capitais e também pelo interior.
Agora, em 2013, é esperado o segundo álbum do artista com as possíveis participações de Marcelo Camelo e Erasmo Carlos, anunciadas pelo próprio Jeneci: "Me aproximei muito deles depois que lancei o disco e provavelmente vamos fazer algo juntos. Na maioria das vezes, eu faço a melodia e um pedaço da letra, mas aí gosto de chegar junto de alguém que vai subir o nível da canção. Penso na música como na pintura de um quadro, que sempre pode ter mais profundidade", revela.
Marcante nas canções do jovem paulistano é a poesia que se mistura à guitarra pesada e divertida que pode dar lugar à sanfona suave e melancólica, em segundos. Resta esperar para ver se esse passeio pela intensidade e a doçura, feita de forma magistral no primeiro cd, continuará na fórmula do segundo álbum ou se haverá surpresas daquele que vem (en)cantando nesse lindo ônibus da nova MPB.


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