10 de dez. de 2011

Born this way

Por Rafael Maia 
Imagens Divulgação
 

É fácil enxergar as firulas da Lady GaGa. Parte porque está exposto aos olhos, parte porque é o que se espera dessa artista com base nos trabalhos anteriores, "The Fame" e "The Fame Monster", que, com letras leves, porém bem escritas no universo pop, traziam uma cantora com apelo sensual da dance music - o que foi corroborado pelas zilhões de aparições públicas que tomaram conta dos meios de comunicação nos últimos dois anos.

Com o novo álbum de estúdio, "Born This Way", lançado em 2011, a cantora deixa órfãos os fãs da dance music que cativou até então, parte para o rock n' roll, faz um álbum que reúne referências de pelo menos três décadas anteriores à sua existência, não propõe uma nova perspectiva e traz, mais uma vez, um carma que a persegue a cada novo trabalho: as comparações com Madonna.

Produzido pelo barulhento RedOne, famoso por usar batidas metálicas sem muito rigor ou pudor aos ouvidos mais sensíveis, o CD é repleto de letras altruístas, pomposas, que dizem muito sobre autoaceitação e como ser livre em uma sociedade que não lida bem com o diferente, como na faixa que entitula o álbum, "eu sou bonito do meu jeito, porque Deus não comete erros, eu estou no caminho certo, baby, eu nasci desse jeito". Para além disso - que não é pouco em um mercado atual de música pop dominado por autotunes, dublês de corpo, playback e plastificação massiva da imagem - Lady GaGa consegue inteligentemente reunir uma série de referências que vão do hiperrealismo fantástico do britânico David Bowie, passando pela ousadia de Grace Jones e desenbocando, ironicamente ou não, na graça e originalidade sexual pop de Madonna.

Com o novo trabalho, todas as referências parecem se juntar na personagem transexual do leste de Berlim, Hedwig, do filme "Hedwig and the Angry Inch", lançado em 2001, dirigido e interpretado pelo diretor John Cameron Mitchell. Hedwig é uma "mulher" do punk rock que exagera na maquiagem, nas perucas e nas performances e busca clara inspiração no punk dos anos 1970 de David Bowie. Ver hoje Lady GaGa e não pensar em Hedwig, criada há 10 anos, é impossível. E, obviamente, isso reflete nas músicas do CD. A faixa "Americano" é um exemplo disso. A letra fala dos imigrantes latinos nos EUA e brinca com essa situação toda de uma maneira tão clichê, tão brega, tão “Santa Esmeralda” que acaba divertindo demais. Já "The Edge of Glory" - uma faixa produzida por Fernando Garibay, famoso no cenário eletrônico - é uma válvula-de-escape neste trabalho bastante rock 'n roll. A faixa é brega, com uma letra escandalosa, um saxofone que diz "sou cafona" e um refrão apocalíptico no melhor estilo das músicas do Abba.

No final das contas, "Born This Way" grita e briga com quem compara GaGa com Madonna. E é verdade, GaGa não é Madonna. A cantora de "The Fame" - na era do Google, quando a originalidade e propriedade intelectual ficam frágeis com a reprodução desenfreada de conteúdo - se apropria de alguns valores sem oferecer os devidos créditos, certamente. Mas isso é a ponta do iceberg.

Se, nos anos 80, no entanto, Madonna se definiu pela bandeira da liberdade sexual, GaGa está preocupada com outra questão 30 anos mais tarde. Em "Born This Way" , a cantora traz elementos sexuais para música à la Madonna, mas está essencialmente preocupada com a aceitação do diferente e a liberdade dos gêneros mais do que com a sexualidade em si.

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