Por Júlia Endress
Com um
formato original, criado e lançado em Israel em 2013, o novo reality show
musical da Globo conquista a audiência com verdadeiros espetáculos de bandas
praticamente desconhecidas. O Superstar chegou
ao Brasil no final de abril – antes até dos EUA - para embalar as noites de
domingo. Além de todas as fases serem ao vivo, a ideia do programa é bastante atraente:
durante os dois minutos em que um grupo se apresenta, o público vota por meio
de um aplicativo para celulares e tablets
– mais uma estratégia da emissora em termos de interatividade – e torna-se o
protagonista na decisão dos que permanecem na competição. Outra inovação é
permitir que os artistas escolham as músicas que irão tocar e que os jurados decidam
quais conjuntos irão apadrinhar – embora
não haja formação de um time de cada técnico.
A cada
semana, o telespectador é transportado para trás de um enorme telão que separa os
músicos da plateia e, de lá, vê cada detalhe das apresentações. O clima é tão
intimista que até o excesso de confiança ou medo de alguns fica claro. Enquanto
se assiste aos shows, é preciso votar para ver a tela de LCD subir e confirmar
a classificação dos grupos. Assim funciona o Superstar, que começou morno e ganhou uma boa dose de adrenalina a
partir da segunda etapa, a dos duetos. No começo, o objetivo era atingir 70%
dos votos. Depois, tudo passou a ser disputa e só seguia em frente quem fazia
mais pontos. As aprovações e eliminações são responsabilidade do público,
afinal o “sim” de Dinho Ouro Preto, Fábio Jr. e Ivete Sangalo – o trio de
jurados – vale 7% cada, somando apenas 21%, o que até ajuda, mas não garante
permanência.
Contudo, apenas
na última fase o programa encontrou o tom certo: passou a funcionar com base em
um ranking, no qual o grupo com menor votação “volta para casa”. A forma mais
dinâmica, organizada e emocionante revela que já existe, sim, uma audiência
fiel, que o aceitou e compreendeu o desastre da estreia. Na primeira noite, o
aplicativo simplesmente não funcionou com tantos acessos e levou Fernanda Lima,
linda como sempre, a improvisar para levar a edição até o fim – o que soube
fazer com total naturalidade, ainda que lhe falte conhecimento sobre música
para não chamar de fofa uma banda de rap “da pesada”. Os seus assistentes,
André Marques e Fernanda Paes Leme, também mostram, desde o início, que é
preciso saber fazer ao vivo. Ele tem a vantagem dos anos de experiência à
frente do Vídeo Show. Já a atriz virou a clássica tiete. Dos bastidores, ela entrevista
os artistas e, com bastante desenvoltura, dispara cantadas para todos. A sorte
é que a descontração desses momentos e a rapidez das três aparições da moça
evitam maiores constrangimentos.
De lá pra cá, tudo se ajustou. Apostando na
espontaneidade para dar um ar mais tranquilo até para as eliminações, o Superstar prova que trapalhadas
acontecem, principalmente quando se tenta inovar. O tão falado telão é a versão
atualizada de outros programas em que o espectador já controlava os
desdobramentos. Na grande final, somente o público votou e decidiu entre quatro
bandas a grande vencedora. Na Globo, isso foi realizado pela primeira vez na década
de 90, quando se usava o telefone para escolher entre os dois finais de Você Decide. Em Big Brother Brasil, principal reality da emissora, há catorze
edições a audiência decide – pelo telefone ou pela internet – quem deixa “a
casa mais vigiada do Brasil” a cada semana. A diferença é que na nova atração
dominical, também dirigida por Boninho, há mais riscos envolvidos, já que o
usuário do aplicativo define o resultado em poucos minutos e tudo é visto instantaneamente
– quem vota pode até ver seu rosto exibido na tela da TV.
A grande
polêmica do reality show certamente é o fato de que as canções não são exibidas
totalmente ao vivo. Os instrumentos - bateria,
guitarra, teclado, baixo, sopros e todo o resto - são gravados juntos em
estúdio um dia antes, para criar uma atmosfera de “disco ao vivo”. Então, o que
se vê na hora não passa de cantores jogados aos leões e apoiados pelo velho playback. Tudo isso porque o programa quer
que as apresentações pareçam ser perfeitas, evitando que o público assista a
grandes erros ou perceba a enorme diferença técnica entre alguns músicos. As
críticas - e toda a atenção das câmeras – ficam, portanto, sempre centradas nos
vocalistas, que são os únicos sujeitos a deslizes e nervosismo em cada performance.
O telespectador
até pode se sentir enganado com tamanho “fingimento”, mas não se pode dizer que
isso desmerece o Superstar, que passa
longe da encenação tosca que já foi utilizada em programas de auditório como
Faustão, Globo de Ouro, abertura e
encerramento de grandes eventos como a Copa do Mundo e “shows
enganação”, como Britney Spears e Justin Bieber. Por outro lado, também não se
compara aos espetáculos de Fama, formato
semelhante realizado pela Globo de 2002 a 2005, no qual uma banda de apoio se
colocava à prova das dificuldades de tocar ao vivo enquanto a audiência decidia
qual cantor deixaria a competição.
De qualquer
forma, a única certeza que se tem hoje é de que no momento da votação, o
público não está avaliando a competência de grupos musicais ao vivo. Tudo bem
que esse seria o grande diferencial da atração, mas são as gravações que
garantem os sons de alto nível e as votações acirradas que levam o espectador ao
delírio. E é justamente por proporcionar isso que o Superstar dá certo e cumpre a difícil missão de abrir espaço para
todos os ritmos e estilos se mostrarem de forma impecável. É tudo tão bem feito
que até os vídeos sobre a semana dos artistas tem o consagrado “padrão Globo de
qualidade”.
E quem achou que o novo programa não teria vez
em função do já famoso The Voice Brasil
errou feio. Mesmo antes da final, Fernanda Lima e sua trupe animada já haviam
garantido a renovação para mais uma temporada. O público mostra que finalmente
entendeu a responsabilidade de seu papel: as bandas estão sendo realmente
julgadas por seu talento, e não por critérios confusos. E se no reality das
cadeiras giratórias um bom “imitador” impressiona os técnicos, no da tela de
LCD o truque é causar impacto com algo diferente.
No Superstar, a originalidade, enfim, tem
vez na televisão. Afinal, não há razão para ser comedido durante dois minutos
de teste e aparição na mídia. A prova de que vale a pena arriscar é que a
Malta, primeiro grupo a subir no palco e vencedora do programa, ganhou espaço apresentando
canções autorias desde o início – para alegria de Fábio Jr., que clama por isso
todas as noites. E até não tem problema em fazer cover (a própria Malta chegou a fazer dois ao longo das etapas),
mas eles só são aceitos se fugirem do convencional, como fez a banda Mary Di ao
transformar ‘Meu Sangue Ferve Por Você’, de Sidney Magal, em um rock. O futuro da
atração e das atrações em teste é uma incógnita, mas se os concorrentes de
agora olharem para o que acontece com os vencedores e demais participantes das
duas temporadas do The Voice Brasil, perceberão que apostar em si é
a melhor opção, tanto para eles, como para o público, que a cada semana pode
conhecer novos ídolos.
0 comentários:
Postar um comentário