7 de ago. de 2014

Superstar: a vez da interatividade e originalidade na TV

                                                            

Por Júlia Endress


Com um formato original, criado e lançado em Israel em 2013, o novo reality show musical da Globo conquista a audiência com verdadeiros espetáculos de bandas praticamente desconhecidas. O Superstar chegou ao Brasil no final de abril – antes até dos EUA - para embalar as noites de domingo. Além de todas as fases serem ao vivo, a ideia do programa é bastante atraente: durante os dois minutos em que um grupo se apresenta, o público vota por meio de um aplicativo para celulares e tablets – mais uma estratégia da emissora em termos de interatividade – e torna-se o protagonista na decisão dos que permanecem na competição. Outra inovação é permitir que os artistas escolham as músicas que irão tocar e que os jurados decidam quais conjuntos irão apadrinhar  – embora não haja formação de um time de cada técnico.


A cada semana, o telespectador é transportado para trás de um enorme telão que separa os músicos da plateia e, de lá, vê cada detalhe das apresentações. O clima é tão intimista que até o excesso de confiança ou medo de alguns fica claro. Enquanto se assiste aos shows, é preciso votar para ver a tela de LCD subir e confirmar a classificação dos grupos. Assim funciona o Superstar, que começou morno e ganhou uma boa dose de adrenalina a partir da segunda etapa, a dos duetos. No começo, o objetivo era atingir 70% dos votos. Depois, tudo passou a ser disputa e só seguia em frente quem fazia mais pontos. As aprovações e eliminações são responsabilidade do público, afinal o “sim” de Dinho Ouro Preto, Fábio Jr. e Ivete Sangalo – o trio de jurados – vale 7% cada, somando apenas 21%, o que até ajuda, mas não garante permanência.
Contudo, apenas na última fase o programa encontrou o tom certo: passou a funcionar com base em um ranking, no qual o grupo com menor votação “volta para casa”. A forma mais dinâmica, organizada e emocionante revela que já existe, sim, uma audiência fiel, que o aceitou e compreendeu o desastre da estreia. Na primeira noite, o aplicativo simplesmente não funcionou com tantos acessos e levou Fernanda Lima, linda como sempre, a improvisar para levar a edição até o fim – o que soube fazer com total naturalidade, ainda que lhe falte conhecimento sobre música para não chamar de fofa uma banda de rap “da pesada”. Os seus assistentes, André Marques e Fernanda Paes Leme, também mostram, desde o início, que é preciso saber fazer ao vivo. Ele tem a vantagem dos anos de experiência à frente do Vídeo Show. Já a atriz virou a clássica tiete. Dos bastidores, ela entrevista os artistas e, com bastante desenvoltura, dispara cantadas para todos. A sorte é que a descontração desses momentos e a rapidez das três aparições da moça evitam maiores constrangimentos.
                De lá pra cá, tudo se ajustou. Apostando na espontaneidade para dar um ar mais tranquilo até para as eliminações, o Superstar prova que trapalhadas acontecem, principalmente quando se tenta inovar. O tão falado telão é a versão atualizada de outros programas em que o espectador já controlava os desdobramentos. Na grande final, somente o público votou e decidiu entre quatro bandas a grande vencedora. Na Globo, isso foi realizado pela primeira vez na década de 90, quando se usava o telefone para escolher entre os dois finais de Você Decide. Em Big Brother Brasil, principal reality da emissora, há catorze edições a audiência decide – pelo telefone ou pela internet – quem deixa “a casa mais vigiada do Brasil” a cada semana. A diferença é que na nova atração dominical, também dirigida por Boninho, há mais riscos envolvidos, já que o usuário do aplicativo define o resultado em poucos minutos e tudo é visto instantaneamente – quem vota pode até ver seu rosto exibido na tela da TV.
A grande polêmica do reality show certamente é o fato de que as canções não são exibidas totalmente ao vivo.  Os instrumentos - bateria, guitarra, teclado, baixo, sopros e todo o resto - são gravados juntos em estúdio um dia antes, para criar uma atmosfera de “disco ao vivo”. Então, o que se vê na hora não passa de cantores jogados aos leões e apoiados pelo velho playback. Tudo isso porque o programa quer que as apresentações pareçam ser perfeitas, evitando que o público assista a grandes erros ou perceba a enorme diferença técnica entre alguns músicos. As críticas - e toda a atenção das câmeras – ficam, portanto, sempre centradas nos vocalistas, que são os únicos sujeitos a deslizes e nervosismo em cada performance.
O telespectador até pode se sentir enganado com tamanho “fingimento”, mas não se pode dizer que isso desmerece o Superstar, que passa longe da encenação tosca que já foi utilizada em programas de auditório como Faustão, Globo de Ouro, abertura e encerramento de grandes eventos como a Copa do Mundo e “shows enganação”, como Britney Spears e Justin Bieber. Por outro lado, também não se compara aos espetáculos de Fama, formato semelhante realizado pela Globo de 2002 a 2005, no qual uma banda de apoio se colocava à prova das dificuldades de tocar ao vivo enquanto a audiência decidia qual cantor deixaria a competição.
De qualquer forma, a única certeza que se tem hoje é de que no momento da votação, o público não está avaliando a competência de grupos musicais ao vivo. Tudo bem que esse seria o grande diferencial da atração, mas são as gravações que garantem os sons de alto nível e as votações acirradas que levam o espectador ao delírio. E é justamente por proporcionar isso que o Superstar dá certo e cumpre a difícil missão de abrir espaço para todos os ritmos e estilos se mostrarem de forma impecável. É tudo tão bem feito que até os vídeos sobre a semana dos artistas tem o consagrado “padrão Globo de qualidade”.
 E quem achou que o novo programa não teria vez em função do já famoso The Voice Brasil errou feio. Mesmo antes da final, Fernanda Lima e sua trupe animada já haviam garantido a renovação para mais uma temporada. O público mostra que finalmente entendeu a responsabilidade de seu papel: as bandas estão sendo realmente julgadas por seu talento, e não por critérios confusos. E se no reality das cadeiras giratórias um bom “imitador” impressiona os técnicos, no da tela de LCD o truque é causar impacto com algo diferente.
No Superstar, a originalidade, enfim, tem vez na televisão. Afinal, não há razão para ser comedido durante dois minutos de teste e aparição na mídia. A prova de que vale a pena arriscar é que a Malta, primeiro grupo a subir no palco e vencedora do programa, ganhou espaço apresentando canções autorias desde o início – para alegria de Fábio Jr., que clama por isso todas as noites. E até não tem problema em fazer cover (a própria Malta chegou a fazer dois ao longo das etapas), mas eles só são aceitos se fugirem do convencional, como fez a banda Mary Di ao transformar ‘Meu Sangue Ferve Por Você’, de Sidney Magal, em um rock. O futuro da atração e das atrações em teste é uma incógnita, mas se os concorrentes de agora olharem para o que acontece com os vencedores e demais participantes das duas temporadas do The Voice Brasil, perceberão que apostar em si é a melhor opção, tanto para eles, como para o público, que a cada semana pode conhecer novos ídolos. 




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