17 de set. de 2013

O moderno virou passado

Por Thays Cruz

Fotos: Thays Cruz
Cercada por uma atmosfera de histórias e curiosidade, objetos passam de dono em dono percorrendo vidas. Quem busca toda essa variedade de estilos e um preço muito mais em conta, acha nos brechós uma nova “marca” para se vestir.

Fui buscando, entrando em lugares repletos de um colorido que reflete um passado curioso. Quem será que usou aquilo? Em que momento? E aquele vestido de noiva, o quanto esperado foi para celebrar a cerimônia dentro de seu branco triunfal? Em meio às peças, brinquedos, bijuterias, comprovei que quem pensa em brechó hoje, pode esquecer apenas o cheiro de naftalina e as poeiras que remetem ao guarda-roupa esquecido da vovó.





É pelo cheiro de coisa antiga, valiosa, curiosa que virou moda comprar peças vintage, ou que são exclusivas nas lojas de roupas usadas ao arredor do parque Farroupilha em Porto Alegre. São cerca de 24 brechós, em torno das ruas Lima e Silva, Sebastião Leão e João Pessoa. Pares e pares de lojinhas que por si só trazem muitas narrativas para serem contadas nas peças que passam por ali.

São públicos diversos que procuram os brechós. Diego Conceição, filho da dona da loja “Irmã Delícia” fala que seus clientes procuram peças retrô. É um público específico que monta seu estilo buscando roupas que são antigas e exclusivas. “Sai mais roupa antiga que atual”. Ou também, mães de família, entre 34 e 50 anos, que pechincham seu vestuário e procuram qualidade nas peças. É o que aponta também Ester Santos, gerente do “Romeu e Julieta”, brechó infantil e adulto. Para ela, o público varia bastante, “vem desde faxineiras até médicas, psicólogas, advogadas”. As peças mais vendidas entre as classes mais altas são as infantis, em contrapartida, o vestuário adulto vende mais entre o público de renda menor, afirma a gerente.

Diego conta que quem frequenta brechós tem que “garimpar” toda semana, pois as peças são vendidas rápido. Mas as jaquetas de couro “são que sempre temos”, ressalta pela grande procura de peças especiais.
Quem bem sabe desse lado caçador de tesouros é Mariana Texeira. A estudante de moda passa algumas boas horas, pelo menos uma vez por mês para buscar um “look moderno e despojado”, mas sem esquecer-se das peças que agregam valor ao guarda-roupa. Ela conta que “algumas peças lá do fundo do baú dão todo um up em visual casual” como uma calça jeans e um blazer anos 80.


Um roteiro entre o novo e o usado 

Entrei em vários lugares, cada um com sua peculiaridade, mas um tom intimista, que fazia recordar, pelas peças, como se já estivesse ali antes. Algo bucólico tingia aquele ambiente. Era uma segunda-feira qualquer, dia em que se arruma o estoque e as peças que foram exploradas no fim de semana anterior. As funcionárias do “Romeu e Julieta” ressaltam que seria o pior dia para se tirar fotos, mas não concordo. Não parava de achar lindos aqueles objetos que antes foram de bebês fofos. Como será que estão? Com que idade? Sentem falta de seus brinquedos?

O caminho dos brechós do bairro Cidade Baixa é característico da região. Os lojistas já reconhecem que seus clientes quando buscam roupas usadas, ou antigas passam por ali. “Quem não acha em um, acha o que estava procurando em outro, às vezes coisas quase novas e com o preço legal”, afirma Diego Conceição. 

Uma marca também da localidade é a quase familiaridade entre os estabelecimentos, muitos parentes concorrem entre si no mercado dos usados. Suzana Silva, gerente do Nina Brechó, conta que já trabalhou na loja do marido, que também vendia artigos de segunda mão. Diego também fala que sua tia também abriu na região um brechó depois de sua mãe se instalar ali. Há anos existem essas lojas de usados na região, O “Nina Brechó” e o “Irmã Delícia” são as lojas mais antigas da região, com 18 e 15 anos de história.

Uma outra tendência no ramo dos brechós tem sido além, das antiguidades, a compra e venda de roupas atuais, sem a característica víntage que chama a atenção nessas lojas. As pessoas, segundo ela, tem procurado o vestuário usado pelo preço e tamanho, e cada vez é mais difícil achar um brechó que venda apenas coisas antigas, de outras décadas, “só os mais antigos mesmo”.

Além do “Bom, Bonito e Barato”, os brechós tem aliado a praticidade nas suas vendas. No “Irmã Delícia”, a proprietária já está instalando um bazar. A esse exemplo, também o brechó “Romeu e Julieta” há um ano, além das roupas, vende artigos que vão de brinquedos a fraldas para quem procura economizar.


Quem disse que só de lojinhas charmosas vive os brechós? 

Seja pela quantidade ilimitada de sacolas de compra que entram em casa com roupas que nunca ninguém vai usar, ou aquele presentinho que você não gostou, e até uma jogada de empreendedorismo, os brechós saíram do espaço físico para habitar o virtual.

Já é sucesso a compra e venda de roupas, acessórios novos e principalmente usados na internet. Um exemplo desse ramo é o “Enjoei.com”. Sua página oficial no Facebook tem quase 900 mil curtidas. No site, internautas podem vender seus produtos, como também comprar peças novas e usadas. O site do “Enjoei” faz a mediação dos produtos, e cobra 20% mais taxas na comissão da venda.

Com bom humor nas descrições de seus artigos, a loja online tem agregado adeptos que querem desapegar da roupa parada no armário e ainda ganhar algum dinheiro. A enfermeira Joyce Araújo, 33 anos, já está, há dois meses, cadastrada na venda pelo site. “olhava no guarda-roupa um vestidinho que comprei há tempos, descobri o site e quis vender, dinheiro não nasce em árvore, né?”, afirma bem-humorada. Foi uma amiga que lhe indicou o site, ela pesquisou e decidiu se aventurar. Os critérios de seleção da página do “Enjoei.com” assustaram um pouco a nova vendedora, mas ela conta que foi surpreendida pela compra rápida do produto. “o pessoal do site me retornou dizendo que o vestido estava em condições de ser anunciado, e em uma semana estava vendido”, ela ainda enfatiza que “por uma pechincha”.

Brechós online ganham cada vez mais espaço
O blog do brechó online “Coraline” tem ganhado adeptos. As irmãs porto-alegrenses, Caroline e Camile Strzykalski vendem para quase todo o Brasil produtos importados e nacionais, usados, ou não. O site das meninas é menor que outros, mas já conquistou quase 1.300 e tem uma média de 30 a 40 compradores por mês. As meninas de 19 e 17 anos, contam que a iniciativa de montar uma loja virtual de usados veio pela onda de sucesso do ramo. Elas tiveram contato com outros brechós online por meio de jornais. “tínhamos muitas roupas praticamente novas e não usávamos por não nos servirem mais, e também por não fazerem mais o nosso estilo e decidimos então vendê-las na internet”, ressaltam sobre como foi melhor montar uma loja eletrônica, que não traria custos para iniciar o negócio. O diferencial do “Coraline”, para as donas é o contato com os clientes. As irmãs querem sempre passar a credibilidade do brechó para os compradores, por isso, passam boa parte do tempo respondendo perguntas, dando suporte aos seus clientes, além de usar ferramentas de pagamento seguro na internet, além de detalharem bem os produtos nas fotos.

Apesar de serem de Porto Alegre, Caroline e Camile, não sentem tanta mobilização de clientes da capital. “A cidade de São Paulo é um cenário mais propicio para brechós, pois o numero de clientes e visitas no site que temos de lá, em comparação a cidade de Porto Alegre é bem maior. Os gaúchos mostram um grande preconceito com esse tipo de negocio, temos relatos de uma cliente que compra de brechós virtuais e não compra de lojas físicas”, ressaltam as donas do “Coraline”.

Sobre a onda fashionista de comprar em brechós, as irmãs relatam que pela tendência vintage, as pessoas têm procurado mais os produtos do brechó, além de serem peças exclusivas, elas têm um preço muito mais em conta. Caroline e Camile também esquecem da sustentabilidade envolvida nesse ramo.

A lógica do online ou dos brechós tradicionais tem sido a mesma: paciência e muita procura pelo que se encaixa mais no seu estilo. Seja pela exclusividade ou personalidade forte, os produtos usados estão, em alta, passando de mão em mão, e conquistando corações.

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