Por Patrícia Soldatelli Valente
Se beber não casa I (2009) e Se beber não case II (2011) tiveram basicamente o mesmo roteiro, o que indignou muitos espectadores, devido à falta de criatividade e repetição da narrativa pelo diretor. Quatro amigos viajam para uma despedida de solteiro (no primeiro, a de Doug; no segundo, a de Stu), bebem (em Las Vegas ou na Tailândia) e acordam de ressaca no dia seguinte. Pior de tudo: eles não se lembram de nada do que aconteceu na noite anterior e um dos quatro amigos está desaparecido – no caso, sempre o Doug.
No entanto, o que esperar de uma comédia em que a maioria dos atores está acostumada a fazer filmes “melosos” de comédia romântica? E, mais, o que esperar de um diretor que em 2007, na função de roteirista, brindou-nos com o nada engraçado Borat – o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América? Desculpem-me aqueles que apreciaram Borat, mas o roteiro agradou poucos. Se essa maioria que não curtiu Borat tivesse atentado para o fato de que Phillips fora o autor daquela tão péssima estória, talvez Se beber não case sofresse as consequências.
Por sorte, pelo menos na nação do futebol, a crítica não tem tanto poder assim ainda, a ponto de desbancar um diretor (pelas falhas passadas) antes mesmo de o seu novo filme ser lançado. Bem pelo contrário, a franquia caiu no gosto internacional e arrecadou milhões nas bilheterias. Só no Brasil, desde 30 de maio quando Se beber não case III – o fim estreou, já foram arrecadados mais de R$ 21,2 milhões e 1,8 milhão de pessoas o assistiram.
| Fotos: Divulgação |
O bizarro Chow dos filmes anteriores dá lugar ao Chow vilão. No todo, o filme III traz uma dosagem a mais de violência e dramaticidade do que o primeiro e o segundo, onde estávamos acostumados com o tom exclusivamente cômico dos personagens. Essas várias mudanças se somam a outro aspecto relevante deste roteiro: a aparente falta de uma despedida de solteiro. Mas será mesmo que não há? É o que dizem alguns espectadores. Assista primeiro e depois diga se existe ou não uma “despedida de solteiro desconhecida” por trás da trama.
Há ainda a questão da bebedeira e da amnésia (características dessa franquia) que não apareceram na Parte III; desqualificando, assim, o nome original The Hangover (A Ressaca), que agora no “final épico” parece não fazer mais sentido. Entretanto, para aqueles que ficam nas salas de cinema até as luzes acenderem, bem provável que essa perspectiva não seja a mesma. Para mim, pelo menos, não foi. Confesso que ri muito assistindo Se beber não case III, relembrando as demais aventuras vividas pelos quatro marmanjos. E, uma dica, sem spoiler (claro!): fique até o final, porque Tood Phillips sempre nos surpreende. Quem sai na hora dos créditos acaba tendo uma visão do filme diferente, que não é compartilhada igualmente por aqueles que se retiram só quando as luzes acendem.
O principal problema deste filme é, então, a falta de verossimilhança. Apesar do mundo da bebedeira, das ressacas e das despedidas de solteiro ser, até certo ponto, comparável com a realidade, o que os atores fazem para arrancar do público algumas gargalhadas não é nada viável no nosso dia-a-dia. Não são homens que aprontam besteiras ou trapalhadas quaisquer; mas sim homens que extrapolam o tangível do cotidiano. Se criar uma girafa em casa já é algo impensável, imaginem transportá-la na caçamba de um pick-up, ao longo de uma freeway norte-americana. Sem contar o que acontece no trajeto.
Enfim, nesse estilo de franquia uma coisa é certa: o “the end” é sempre bastante criticado. Afinal, acabou. De alguma maneira, o autor precisa pôr um ponto final na trajetória. Surgem reclamações de vários tipos, sobre qualquer coisa, tanto dos fãs quanto dos opositores. Dos fãs porque eles normalmente criam demasiadas expectativas que, às vezes, não são correspondidas, gerando a sensação de desagrado/descontentamento e os dizeres “não foi tudo aquilo que eu esperava” ou “poderia ter sido melhor”. Enquanto os opositores – bem, esses o próprio nome já diz: se não gostaram dos dois primeiros filmes, não é o último que fará um milagre.
Mas vale assistir para tirar suas próprias conclusões.
Nome do filme: Se beber não case III – o fim (2013)
Diretor: Todd Phillips
Principais atores: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha e Ken Jeong
0 comentários:
Postar um comentário