6 de dez. de 2011

A paz em segundo plano

Por Anna Liza Precht

“Mídia e terror: Comunicação e violência política” (Paulus, 2005, 202 páginas), do professor doutor e pesquisador Jacques A. Wainberg, é um livro pertinente em se tratando de comunicação nos dias atuais. Aborda um assunto usual e grave que vem sendo continuamente debatido entre o público em geral, pesquisadores e estudiosos: a relação dos meios de comunicação e a cobertura dos mais variados e planejados casos de terrorismo.

Os sete capítulos que integram o livro abordam, de maneira inteligente, um leque de possibilidades para a ligação, ou não, de imprensa e terror. O que não se pode ter dúvida, e o autor procura deixar claro, é o poder que a violência tem de chamar e manter a atenção do público receptor. Os autores dos atos terroristas sabem disso e procuram fazer uso da publicidade midiática para causar ainda mais impacto sobre os seus atos, porque o objetivo do terrorismo é tornar os civis vulneráveis e confusos. Com a evolução do terror no Ocidente, principalmente depois do ataque às Torres Gêmeas em 2001, além da tradição revolucionária entre esquerda e direita, acrescenta-se o fundamentalismo islâmico que atormenta o mundo em diversos ataques contra civis. Quando os meios de comunicação se afastam, conscientemente, do campo do jornalismo e optam por insuflar o rancor, coloca-se em jogo o imaginário das pessoas, disseminando medo e pânico. Os meios de comunicação, em especial a televisão, têm gerado muita especulação quanto ao seu modo de agir diante das crises. Ao mesmo tempo em que devem informar, devem servir ao interesse do público alvo, uma vez que têm forte impacto na formação do seu pensamento.

Nesse contexto atual de terror, questiona-se o jornalismo brasileiro, acostumado somente com o terrorismo político dos anos 60. No Brasil, as notícias internacionais são veiculadas, em sua grande maioria, de maneira superficial. Isso porque não oferecem risco ao público daqui e seriam de difícil assimilação pelas pessoas que vêem a violência, mas não chegam ao cerne dos motivos que a geraram. Diante do aumento da violência, e da crescente falta de tolerância no mundo, educadores e especialistas em comunicação buscam, incessantemente, uma solução para esse problema. De maneira otimista e ingênua, sugerem que a educação e a comunicação para a paz viriam através da cultura e da linguagem.

Bem fundamentado em dados empíricos, o texto foi desenvolvido de forma clara e articulada, trazendo estatísticas e citações de importantes pesquisadores do assunto em questão, o que contribuiu ainda mais para a qualidade do livro. Pelo tema ser bastante amplo, e o autor abordar o caso por vários ângulos, a obra faz com que o leitor transite pelos acontecimentos e passe a vê-los com uma visão particular e crítica.

O gaúcho Wainberg é um estudioso reconhecido nacional e internacionalmente graças às inúmeras pesquisas realizadas na área da comunicação. Ele une habilmente sua formação de historiador e jornalista e, exemplo disso, é o livro “Império de Palavras” (1997/2003), em que compara a trajetória das corporações comunicacionais de Hearst e de Chateaubriand, nos Estados Unidos e no Brasil, respectivamente. Já no ano de 2001, o livro “Casa Grande e Senzala com Antena Parabólica” examina o desenvolvimento das telecomunicações brasileiras desde o seu começo. Em 2007, Wainberg escreveu “A pena, a tinta e o sangue: a guerra das ideias e o Islã” dissertando de maneira mais profunda sobre um assunto já iniciado no livro objeto dessa crítica: as diversas tendências ideológicas e teológicas que, desde o ataque da Al-Qaeda nos Estados Unidos em 2001, se enfrentam no mundo. Essa trajetória de publicações mostra que o campo de ação de Wainberg aumenta com o passar dos anos, chegando a um âmbito que transcende a comunicação.

O mundo vive, inegavelmente, uma nova era de terror, e isso Wainberg cita claramente. A mídia tem que noticiar o que ocorre independente se é terrorismo ou não. Na sua essência, isso não é propagandear ou valorizar a violência, pelo contrário, é informar a população e alertá-la da realidade. A iniciativa do jornalismo e da educação voltados para a paz é louvável, mas utópica, já que os meios de comunicação dependem de seu público receptor que tem sua atenção despertada quando a violência é posta em pauta. Assim, infelizmente, a paz acaba ficando em segundo plano.

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