22 de jul. de 2011

“Lightbulb Sun” e os novos rumos do Porcupine Tree

Por Sabrina Ruggeri

O Porcupine Tree é uma das bandas de Art Rock da atualidade que mais tem se destacado, estilo derivado do Rock Progressivo da década de 70. O grupo inglês é principalmente lembrado pelo seu frontman Steven Wilson (vocal e guitarra), músico multi-instrumentista e reconhecido produtor, e pelo baterista Gavin Harrison, eleito por três vezes consecutivas o melhor baterista do planeta pela revista Modern Drummer, a mais tradicional do ramo. O Porcupine Tree lançou 11 discos inéditos em 20 anos de carreira, o álbum analisado trata-se do sexto, lançado em 2000. Suas principais influências são os grupos Pink Floyd e King Crimson.

www.porcupinetree.com

O frontman do Porcupine Tree, Steven Wilson, disse certa vez em entrevista que uma das grandes belezas da música, uma das razões de ela ainda ser a grande forma de arte mesmo com o advento do cinema, é que ela demanda do sujeito que a experencia tanto quanto de quem a cria. É com esse olhar que devo apresentar este álbum: quanto mais intensamente experenciado, tanto mais ele se tornará melhor.

Com a primeira faixa que leva o título do álbum, logo nos deparamos com umas boas pitadas de psicodelia agregadas a recordações de infância, elementos que preenchem o disco todo. Trata-se de melancolia no melhor estilo Steven Wilson. O baixo de Colin Edwin atua sempre dando um forte tom de simpatia (macio, mas entusiasmado), um embalo certeiro para o ar melancólico responsável pelo estilo da banda.

Esta faixa remete-nos à própria capa do álbum: um menino de uniforme em frente a um colégio antigo, segurando uma estranha lâmpada que irradia uma luz amarelada. Da pílula cor de rosa que a criança deveria tomar (fragmentos da letra), das imagens das cortinas fechadas e do isolamento: nostalgia dos tempos de infância, mas nostalgia em seu sentido genuíno. Ao fim da canção, ouvem-se gritos e sons de brincadeiras infantis, podemos imaginar o pátio do colégio, aquele pátio escondido no canto da capa do álbum: tempo que se foi e jamais volta, só resta vingá-lo.


Outra canção que merece ser mencionada é a “Last Chance to Evacuate Planet Earth Before it is Recycled”, trata-se de um conjunto de violões poéticos e inspirados, um baixo fretless deixando a melodia em evidência, seguida de uma agradável “viagem porcupineniana” conduzida por um sintetizador. Em seus versos, um planeta prestes a ser “reciclado”, desde que as pessoas queiram deixar tudo o que já não serve para trás, retornando ao “reino evolutivo” de onde supostamente viemos. Uma voz aflita ao final da canção pede que abandonemo os comportamentos humanos, a ignorância, a desinformação. Imagem de um planeta que pede por ser reciclado.

O cantar de pássaros nos conduz a mais uma alta dose de nostalgia, “Where We Would Be” reflete sobre os planos que não deram em nada, da saudade do que nem chegou a ser feito, do que não pode mais se tornar realidade. A canção gira em torno da lembrança dos momentos em que estas possibilidades eram tão certas quanto o nascer do sol no próximo dia, a esperança em relembrar os sonhos que foram juntos sonhados proporciona mais uma tentativa: “Of where we would be when the future comes, and how you would paint while I wrote my songs…”, ouvimos um cativante solo, caminho para o verso final que é capaz de fazer a música se prolongar: “Strange how you never become the person you see when you’re young”.

Como Steven declarara em várias ocasiões, não acha que sua música seja complexa, apenas a considera bem produzida. O Porcupine Tree nasceu no começo da década de 90, em meio a uma cena musical remanescente dos grandes nomes do rock progressivo inglês, o mais aclamado mundialmente e responsável pelo próprio surgimento do estilo. Um subgênero do rock marcado pela presença unânime do jazz e de músicos preocupadas com a melhor execução possível em seus intrumentos, bem como com um padrão construído internamente de qualidade de concepção técnica e artística de letras, canções e álbuns conceituais, inclusas aí as artes destes produtos.

Essa cena musical se localizava no interior da Inglaterra e se associava a outras regiões do mesmo país onde músicos se voltavam à recuperação e atualização do estilo progressivo. Os primeiros álbuns do Porcupine foram inteiramente compostos por Steven Wilson, momento em que ele criou o nome da banda e também a própria banda: Steven espalhou entre o meio Prog da região, por entre fãs e radialistas, que o Porcupine Tree era uma banda famosa e importante da década de 70 que havia sido esquecida. Seus álbuns foram aclamados pelo público, que exigiu uma apresentação da “ilustre banda”, é aí que Steven teve que revelar a anedota e encontrar músicos para fazer a banda deixar de ser mentira. O baixista Edwin Colin e o tecladista Richard Barbieri são contratados na ocasião e e se mantêm na banda com Steven até hoje.

Depois de serem amplamente reconhecidos na Europa, chega o momento de a banda se abrir para os mercados americanos, é aí que o Porcupine passa a incorporar elementos do Heavy Metal, estilo que, nesta época (início dos anos 2000), apenas começava a resgatar o rock progressivo a misturá-lo a suas guitarras pesadíssimas e aos vocais sujos e agressivos, (mesmo que haja muitas controvérsias sobre o possível Metal Progressivo). Sem perder a identidade da banda, o Porcupine Tree faz este movimento de mudança de linha de composição, quando opta por um baterista mais técnico e vindo do jazz, mantendo, por fim, sua temática de letras intimistas e delicadas. Após o primeiro lançamento e turnê em terras ianques, o Porcupine Tree decide dedicar mais um álbum a este mercado, é quando a banda, e mais notadamente o frontman Steven Wilson, fazem uma relevante contribuição em termos de crítica da cultura contemporânea.

O álbum “Fear of a Blank Planet” é lançado em 2007 e tem como capa o rosto de uma criança preenchendo todo o enquadramento, seus olhos estão vivamente vazios. Wilson, autor de todas as letras, reflete nesta obra sobre o universo que abriga a chamada juventude contemporânea: shoppings lotados de consumidores, pílulas e remédios anti-depressivos tornadas comuns entre os adolescentes, alienação e tédio constante. O compositor faz uso de vozes de personagens intercaladas durante o álbum como recurso de narrativa, buscando uma composição una da obra. O álbum foi muito bem recebido pelo público e pela crítica.

Conhecer o que o Art Rock tem produzido de mais ambicioso, como tem evoluído o seu projeto de obras conceituais que englobam letras, artes visuais e performance, conhecer uma parte da música contemporânea, por fim, passa necessariamente por esta banda.



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