17 de set. de 2013

Desliga o pornô e vai ler um livro

Foto: Tassia Furtado
Por Pedro Veloso

Seja na mão de senhorinhas em sala de espera de consultórios médicos ou com gurias mais jovens nos ônibus, os livros eróticos estão à solta e ao contrario do que se pode imaginar, ninguém está nada constrangido por isso. Se formos até alguma grande livraria de algum shopping (ou acessar o site de alguma delas) vamos ver pelo menos uns quatro deles presentes nas listas de mais vendidos. Três provavelmente serão os livros da trilogia “50 tons de cinza” e mais algum genérico, que pegou carona nesse movimento. Os livros da série “50 tons” venderam mais de 70 milhões de cópias no mundo inteiro e deve virar filme em 2014.






Mas vamos sair agora das grandes livrarias e ir até um bar. Toda primeira segunda-feira do mês, no Bar do Nito (Rua Cel Lucas de Oliveira, 105) em Porto Alegre, acontece o Sarau Erótico. Durante uma hora são lidos e ouvidos contos, trechos de livros, poesias e tudo mais que possa se enquadrar na literatura erótica. Criado por duas amigas, a publicitária Monique Esswein Guimarães e a jornalista Nanni Rios, a ideia de ler em voz alta livros que talvez chocassem nossas avós, e claro, surgiu numa mesa de bar.

“Conversava com uma amiga sobre fazer um Sarau de literatura erótica apenas para amigos, na casa de alguém. Ela acabou me apresentando para a Nanni, que já costumava fazer estas farras literárias em casa. A ideia foi tomando outro formato e realizamos o primeiro Sarau no Nós Coworking em junho de 2012 para 120 pessoas. Não paramos mais.” conta Monique, que na ocasião havia levado a filha de 10 anos para assistir ao Sarau.

Cheguei pontualmente as 20h30, horário marcado para começar. Mas logo a Nanni veio me avisar que deveria demorar um pouco mais pra começar, para que mais pessoas pudessem chegar. Estranhei um pouco a escolha do lugar: não era um bar undergound/alternativo do Bom Fim ou Cidade Baixa, mas sim um quase restaurante no bairro Auxiliadora. O Saraú, no entanto, entanto uma tentativa de dar uma “nova cara ao bar”, um convite que partiu do próprio dono. Minutos antes de começar, um DVD de “Os sonhadores” de Bernardo Bertolucci, um filme que até poderia ser considerado um soft porn, é inserido no aparelho.

Apesar da espera, quando o Sarau começa de vez por volta das 21h, cerca de dez pessoas estavam presentes. Pouco se comparado aos cento e poucos confirmados na página do evento no Facebook, ou a edições anteriores, que chegaram a ter cerca de cinquenta pessoas. Monique e Nanni, as duas anfitriãs e “apresentadoras”, já iniciam os trabalhos e fazem questão de mostrar que o espaço e democrático.

“É tudo sem censura, sem amarras e sem caretice. O microfone é aberto para quem quiser participar. Tem gente que traz livros ou textos próprios, para quem vem sem emprestamos os nossos.” conta Monique, que na ocasião, teve um de seus textos lidos pela Nanni.

Entre os outros textos um conto sobre um casal que descobre o sexo anal, adultério, até dicionário com sinônimos do pênis.

“Estamos sempre de olho nos sebos de livros usados e nas livrarias. Na verdade, sempre coloco uma malícia no que leio, acho um trechinho e levo para o Sarau.” revela Monique.

Depois de uma hora ouvindo muita sacanagem, apesar de diversos voluntários terem lido diversos textos e livros – incluindo um manual sexual para “moças” dos anos 1970 - ao fim do Sarau, ninguém leu trecho algum de 50 tons. Talvez eu devesse ter levado o que eu peguei emprestado como “laboratório” para essa matéria.

Mas apesar das diferenças, o mundo quase underground do sarau erótico tem muito em comum com o dos grandes Best Sellers de alguma Livraria Cultura da vida. Em ambos o interesse das mulheres parece ser muito maior que o dos homens. Algo que até então não se via muito.

“O interesse (das mulheres) sempre esteve aí. A diferença é que hoje falamos mais abertamente sobre sexo, relacionamentos, amor, escolhas, etc. As mulheres resolveram assumir que gostam tanto de sexo, quanto os homens. Escrevem e lêem sobre erotismo com naturalidade.” desabafa Monique.

O Sarau Erótico segue toda primeira segunda do mês no Bar do Nito (Av. Cel. Lucas de Oliveira, 105). “Também estamos namorando um lugar na Cidade Baixa” confidencia Monique anunciando que o projeto não deve morrer tão cedo. De livrarias a mesas de bar, pelo jeito a literatura erótica veio para ficar mesmo.

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