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| Fotos: Divulgação |
Nos últimos anos a Alemanha tem mostrado uma inclinação a fazer filmes que de alguma forma recontem sua história. Tem sido assim há pelo menos uma década, com filmes como A Queda (Oliver Hirschbiegel, 2004) e o mais recente O Grupo Baader-Meinhof (Uli Edel, 2008). Podemos ser mais específicos ainda, e identificar uma tendência dentro da tendência: a de se fazer filmes sobre a vida (e as tensões) na extinta Alemanha Oriental. Exemplos desta “sub tendência” são o fraco Adeus, Lênin! (Wolfgang Becker, 2003), o excelente A Vida dos Outros (Florian Henckel von Donnersmarck, 2006), e, mais recentemente, Barbara (Christian Petzold, 2012), que passou quase despercebido pelas salas de cinema de Porto Alegre no começo de 2013 e neste mês de junho chegou às lojas e locadoras em DVD. Trata-se de um filme apenas regular, que bebe diretamente da fonte do filme de von Donnersmarck, mas que não cumpre o que promete e acaba sendo uma espécie de meio-termo entre os filmes desta vertente bastante específica.
A premissa de Barbara é bastante boa, e começa com a protagonista de mesmo nome (interpretada por Nina Hoss, que, assim como todos os envolvidos na produção não fez mais nenhum trabalho conhecido no Brasil) chegando ao seu novo emprego em um hospital do interior da Alemanha Oriental, para o qual foi obrigada a se mudar. Pouco a pouco ficamos sabendo do seu “crime” e de suas consequências: ela pediu um visto para sair do país e passou a ser uma pária para o rigoroso regime comunista, que começa a vigilar cada pessoa dado pela médica. Barbara fica, então, isolada enquanto continua planejando sua fuga – com auxílio do seu amante ocidental – até que vê no chefe do hospital, André (Ronald Zehrfeld), alguém passível de confiança. O peso sob as costas de Hoss era grande. Quando a personagem principal é tão vital à obra a ponto de fazer do nome dela também o nome do filme, a atuação de tal personagem cresce muito em importância. E Hoss cumpre com as expectativas; mesmo não fazendo uma atuação brilhante, a atriz conseguiu pesar bem as expressões faciais e desenvolver corretamente a personagem e suas nuances (de humor, faciais, dilemas existenciais etc). Outro destaque vai para a produção, que soube não só encontrar atores certos para os papéis certos, mas também recriou perfeitamente os cenários, as roupas e os objetos da época.
Mas as boas notícias sobre Barbara param por aí. A ideia do diretor Christian Petzold foi a de demonstrar o quão solitária e isolada a médica se sentia na sua nova casa. Em um plano Barbara almoça sozinha na cantina e a câmera faz questão de mostrar essa divisão fisicamente; em outro, a vizinha do apartamento é rude com ela; corta para Barbara ao fundo de um trem; há muitas pessoas no vagão, mas nenhuma perto dela, fato exacerbado pelo trabalho da câmera; uma passageira se vira, olha Barbara de cima a baixo e volta a olhar para frente. O problema com esses planos (e seus enquadramentos) é que eles perdem muito tempo tentando mostrar de forma um tanto grosseira algo que poderia muito bem ser expresso de maneira mais sutil e durante menos tempo: quase meia hora é “perdida” salientando o fato de que Barbara está sozinha. Se já foi dito aqui que a premissa da película é bastante boa é pelo fato de apresentar o conflito vigilantes/vigilados, e a tensão de Barbara em sua tentativa de fuga. Mas nada disso é bem desenvolvido durante a trama. Ao contrário de A Vida dos Outros, que conta a história de um agente do governo da Alemanha Oriental que é encarregado de vigilar um dramaturgo, mas acaba se envolvendo com quem deveria espionar, Barbara não faz bom uso desta dicotomia. Os agentes que cuidam da protagonista são quase que robôs, pois são representados de forma extremamente maniqueísta e sem sentimentos; até há uma tentativa em contrário, mas ela é tão débil que os resultados são pífios e não alteram o resultado final. Da mesma forma, há no roteiro a expectativa de fazer de Barbara e André um casal, para que haja alguma dúvida se a personagem principal realmente fugirá do país para encontrar seu amante ou se ficará no campo vivendo com seu novo amor. Só que não funciona. Não há química entre os personagens, e em nenhum momento o espectador fica convencido de que está presenciando uma história de amor forte o suficiente para levar alguém a mudar os planos de sua vida. Assim como os filmes cujo suspense reside em descobrir se foi o personagem x ou y que cometeu o crime z, a falta de conflitos e de relações mais pungentes entre os núcleos de Barbara faz com que toda a “moral” resida no final, em saber se ela terá sucesso em sua empreitada ou não (pressão que não se cumpre, já que o desfecho da história é bastante desapontador): sabendo como tudo vai acabar não há sentido em ver o resto, que na prática em nada muda.
Na capa do DVD está escrito, com destaque: “Quem ama A Vida dos Outros, deveria ver Barbara”. Uma frase estranha e um tanto descontextualizada, mas que mostra claramente as pretensões da produção de 2012. Por que alguém que ame o filme de 2006 deve ver Barbara? Um bom complemento à sentença provavelmente seria “para ver tudo o que poderia ter dado errado com o filme de que você tanto gostou” ou “para não ficar em dúvida sobre qual produção amar”. Barbara pode até não ter o humor idiotizante de Adeus, Lênin!, mas, mesmo que consideremos a comparação com A Vida dos Outros mais um erro de marketing que estético, fica clara a sensação de que, com a produção, os atores e o argumento que tinha em mãos, Petzold deveria – e podia – ter feito um trabalho muito melhor e mais bem construído. Barbara (idem) Alemanha, 2012, 106 min. Direção: Christian Petzold Elenco: Nina Hoss, Ronal Zehrfeld, Rainer Bock e Jasna Fritizi Bauer Distribuidora: Europa Filmes
Barbara
Alemanha, 2012, 106 min.
Direção: Christian Petzold
Elenco: Nina Hoss, Ronal Zehrfeld,
Rainer Bock e Jasna Fritizi Bauer
Distribuidora:
Europa Filmes


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