17 de set. de 2013

A torta tinha que ser de amora

Por Jéssica Caroline Kilpp 


Foto: site Ler, Dormir, Comer
Cansada de “ser louca assim sozinha”, Clarice Falcão segue sua turnê pelo Brasil incluindo apresentações fora do eixo Rio – São Paulo. 

Faltava uma semana para o show de Clarice Falcão em Porto Alegre e já era impossível encontrar um par de ingressos. Quem quisesse sentar na Plateia Baixa, mais próximo do palco, deveria ir sozinho. Ou então, acompanhado, assistindo a uma miniatura de Clarice lá do fundo.





Foi assim que a capital gaúcha recebeu a cantora em uma noite de domingo: com um teatro lotado no Bourbon Country. Ainda assim, o clima morno típico da melodia de suas músicas refletiu no público, que apreciava sentadinho, sem muitas euforias.

Mas é exatamente essa a graça de Clarice: o humor inteligente e sarcástico dito de forma amena. Todas as músicas do CD “Monomania”, tocado no show, foram compostas por ela. A mais popular, ‘Oitavo Andar’, retrata o que parece ser a cara de uma nova tendência na música, com letras costuradas de forma mais complexa. Clarice Falcão canta como se estivesse contando uma história – bizarra, mas divertida:

Quando eu te vi fechar a porta eu pensei / 
Em me atirar pela janela do 8º andar / 
Onde a dona Maria mora/ 
Porque ela me adora e eu sempre posso entrar/ 
Era bem o tempo de você chegar no T olhar no espelho o seu cabelo/ 
Falar com o seu Zé/ 
E me ver caindo em cima de você/ 
Como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer/ 

Imagem: blog Doida de Jogar Pedra
Depois de se imaginar no necrotério com o namorado, a personagem da música desiste do pensamento, dá meia volta e come uma torta inteira de amora no jantar. É uma acidez ‘meiga’ e detalhada, daquelas guardadas nas pessoas menos esperadas - diferencial da cantora, que a mantém longe do lugar comum dos sucessos.

É verdade que o principal culpado pelo início de sua carreira musical é o canal do Youtube ‘Porta dos Fundos’, que já alcançou milhões de visualizações no país. A música se apresenta como um reflexo da atuação, cujas pitadas de humor ‘nonsense’ em cenários cotidianos agradaram principalmente o público jovem, também espectador do show.

No entanto, a carreira musical de Clarice está longe de ser um subproduto do “Porta dos Fundos”. Com influências artísticas vindas de berço e originalidade, – ela é filha da escritora Adriana Falcão e do cineasta João Falcão - a cantora vem contribuir para a música brasileira em um momento importante para o seu resgate no imaginário de muitos jovens, cuja busca por novos ícones está se confirmando nos novos nomes desta cena cultural.

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