17 de ago. de 2011

Game of Thrones: medievalismo fantástico na tv a cabo

Por Marcela Prestes

O inverno chegou à HBO Brasil no último dia 8 de maio através da série Game of Thrones, baseada na saga A Song of Ice and Fire do escritor americano George R. R. Martin. O autor iniciou sua carreira na literatura durante a década de 1970 e foi considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo no ano de 2011. Sendo uma produção de mesmo porte de sucessos indiscutíveis como Band of Brothers e Roma – seriados produzidos e exibidos também pela HBO -, a adaptação consegue levar para a televisão a grandeza das paisagens e das construções contidas na obra, como a muralha que protege o reino de criaturas míticas, inspirada na Muralha de Adriano, concluída em 126 d.C., que visava a proteção das terras romanas das tribos Pictos e Escotos.

Game of Thrones/Divulgação

A história no reino de Westeros, 15 anos após a derrubada do antigo rei Aerys Targaryen (também chamado de Mad King) pela rebelião organizada pelo atual rei Robert Baratheon (excelente interpretação de Mark Addy, que até o momento só era reconhecido por papéis cômicos como no filme Ou Tudo, Ou Nada e na série Apesar de Tudo) e pelo senhor feudal das terras do norte, Eddard Stark (Sean Bean, o Boromir de O Senhor dos Anéis). No início do episódio piloto, o próprio rei vai até o senhor do norte pedir a sua ajuda para governar o reino como seu braço direito, pois o antecessor do cargo havia morrido. Relutante, Eddard Stark aceita, pois começa a descobrir que a morte do seu predecessor não foi circunstancial e teme um complô de outros senhores feudais contra a vida do seu amigo e rei. Paralelo a isso, do outro lado do Mar Estreito, o filho sobrevivente do rei louco, entrega sua irmã para o chefe de uma tribo de bárbaros chamada Dothraki (analogia aos hunos) para que com eles possa voltar a Westeros e retomar o seu trono.

Sean Bean em Game of Thrones/Divulgação

Game of Thrones, a série leva o nome do primeiro livro da saga, difere das demais obras medievais fantásticas em razão da motivação dos personagens ser a mesma de pessoas da nossa realidade (dinheiro, poder, religião, amor, luxúria, vaidade..) enquanto nas demais é sempre o Bem contra o Mal (vide O Senhor dos Anéis). Com essa premissa, é inafastável a consequência dos personagens da obra serem cinzentos ao invés de simplesmente heróis e vilões. O diretor foi muito feliz na escolha dos atores, todos ingleses, exceto o americano Peter Dinklage, ator com nanismo que interpreta um dos protagonistas e, talvez, melhor personagem da saga, Tiryon Lannister. Nunca até então um ator/personagem com nanismo teve este peso dramático em uma obra que não fosse infantil ou cômica. O elenco tem a tarefa de interpretar personagens hipócritas, sarcásticos, mas ainda assim extremamente profundos, pois à medida que a história avança, percebe-se que muito da falha de caráter de quase todos os personagens é o resultado da maneira de eles lidarem com os fatos ocorridos com eles mesmos. O que mais destaca esta série sobre as demais é que não existem personagens intocáveis, qualquer um pode morrer, por mais injusto que pareça ao público.

Em geral, um livro prevalece sobre a adaptação da obra para o cinema ou televisão em razão da riqueza de detalhes e de informações que o segundo não consegue incluir do primeiro e, principalmente, em razão de ser praticamente impossível superar a imaginação de um leitor. No entanto, Game of Thrones não comete estes pecados e sim outros. No livro, ao invés de títulos ou números de capítulos, estes têm como cabeçalhos o nome do narrador daquela parte da história, o que os destaca dos demais personagens. Na adaptação para a televisão é difícil perceber esta importância de um personagem em relação aos demais na narração de cada episódio, portanto, quando determinadas circunstâncias acontecem com estes, o espectador não sofre o mesmo impacto do leitor. George R. R. Martin é especialistas em frase de efeito, como “loucura e grandeza são duas faces da mesma moeda que Deus joga quando nasce um rei, e enquanto ela pende no ar, o reino todo prende a sua respiração”, e apesar do talento dos atores, muitas destes diálogos passam despercebidos, o que impossibilita o espectador perceber uma das maiores características da obra.

Game of Thrones/Divulgação

Enquanto o décimo e último episódio da primeira temporada vai ao ar nos Estados Unidos no dia 19 de junho (data em que será transmitido o sétimo episódio no Brasil), a HBO já anunciou que no próximo dia 25 de julho começará a rodar a segunda temporada, que será baseada no segundo livro da saga, chamado A Clash of King, publicado em 1998. Game of Thrones, o primeiro livro da série, foi lançado em 1996 e, de lá pra cá, já foram lançados também A Storm of Swords (2000) e A Feast for Crows (2005). O quinto livro, A Dance with Dragons, após ter data remarcada inúmeras vezes durante seis anos, será lançado dia 7 de julho nos Estados Unidos Resta saber se o escritor conseguirá acabar os dois livros restantes que, ao que se sabe, ainda não foram sequer iniciados, antes que a televisão o alcance.

Game of Thrones/Divulgação

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