23 de jul. de 2011

The Runaways: A cinta-liga invade o palco dos bermudas

Por Rafael J. Gonçalves

Quando colocamos nossos olhos contemporâneos para vislumbrar o campo musical, normalmente associamos a participação feminina por canções mais emotivas, de caráter mais pop, mas raramente vemos o charme das mulheres tocando guitarras e baterias em cima de um palco.

bootsbaby.blogspot.com


Esse era, em suma, o cenário que nos propiciava os eternos e distantes anos 70 no exterior, de onde surgiram cantoras pop como Bonnie Tyler, Tina Turner, Aretha Franklin, Dionne Warwick, as baladas românticas com um fundo softrock entoadas pela voz de Olívia Newton-John, Natalie Cole, conjuntos pops como ABBA, compostos por Frida e Agnetha, além das cantantes disco como as artistas Donna Summer, Gloria Gaynor. 

Enquanto isso, aqui no Brasil, quem dominava esse período era a Tropicália de Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros artistas; a irreverência crítica de Raul Seixas, as Frenéticas pelos lados da música disco. Com um viés mais dramático, se destacava a cantora Maysa, e na nossa Música Popular Brasileira (MPB), quem brilhava atendia pelo nome de Gal Costa, Nara Leão e Elis Regina e Gal Costa, representantes da Música Popular Brasileira (MPB). Mas as que mais se aproximaram do rock foram Celly Campelo, que com suas músicas de letra singela e voltadas ao público feminino, conseguiu obter um sucesso respeitável no gênero e Rita Lee nos Mutantes, que trouxe acordes diferentes para o cenário musical nacional e que caíram no gosto do público na época. 

E no palco do rock’n’roll, aparentemente um reduto masculino, pois as bandas de grande sucesso internacional como Queen, Rolling Stones, Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Kiss e Aerosmith, não continham mulheres em suas formações, surgiu uma banda que representou o lado feminino nesse gênero musical de uma forma despojada e com melodias impositivas de uma mulher mais atuante na sociedade: The Runaways. 

O conjunto de Cherry Cure (Vocal), Joan Jett(Vocal e Guitarra), Sandy West(bateria) e Mickie Steele(baixo), sua formação original, surgiu em 1975, na Califórnia, oeste dos Estados Unidos, e ainda contava com Kari Karome na função de compositora das melodias das californianas. 

No ano seguinte, passaram a realizar uma série de shows ao redor dos Estados Unidos e gravar seu disco de estréia “The Runaways”, com um clássico da banda Cherry Bomb, em alusão à vocalista da banda e seu comportamento efervescente com apenas 15 anos. Nesse período, o grupo passou por mudanças como a chegada de Lita Ford, uma jovem guitarrista de 16 anos e a substituição de Steele por Jackie Fox, fazendo muitas apresentações de abertura das bandas de renomes como Van Halen, destaques da época. Era o início da glória. 

Que veio de maneira avassaladora em 1977, com o disco de maior relevância da banda Queens of Noise, que além de contar com a música título do álbum, o maior sucesso do conjunto, as “garotas do barulho” engataram outros sucessos como Born to be bad, Califórnia Paradise e I Love playing with fire. Realizaram uma turnê mundial com shows tanto pela Europa como pela Ásia, especialmente no Japão, onde participaram de uma série de programas locais, realizando uma seqüência de shows que cativou os japoneses. Nesse momento, originou-se uma comparação nada modesta de que, quando desembarcaram em solo nipônico, com apenas 2 anos de carreira, as damas do rock tinham um assédio comparado ao que uns certos garotos de Liverpool obtiveram na década de 60. 

Numa das principais apresentações da banda, nessa turnê, Cherry surpreendeu a todos subindo ao palco na música Cherry Bomb,vestindo uma cinta-liga preta e um corsette branco apenas, num episódio que demonstra toda a atitude e postura da banda frente à época em que viviam. Elas representaram uma mulher que conquistava seu espaço e quebrava a dinâmica da sociedade patriarcal comandada pelos homens, e isso também chegou na área musical em alto estilo com as femininas californianas. Todas essas apresentações originaram o único álbum ao vivo da banda, Live in Japan, lançado no mesmo ano. 

Entretanto, por divergências internas e externas, seja de ordem financeira mas também por divergências com relação a uma tendência de ritmo musical que a banda deveria seguir no ano seguinte, saíram desse grupo de sucesso a vocalista Cherry Cure e o empresário/produtor que apoiou o início da banda, Kim Fowley. Isso já encaminhava um período de descendência logo após o apogeu do ano anterior. Joan Jett assumiu, sozinha, toda a parte dos vocais. Era uma crise que elas não haviam enfrentado antes, pois sucessivamente eram cobradas, pela imprensa, por suas atitudes despojadas para as suas idades e que mulher não tinha muita intimidade com o Rock e não sabia fazer um produto de qualidade. E agora esses abalos chegaram no ambiente interno das “Runaways”. 

E em 1979, com apenas 4 anos de existência, chegava ao fim a banda de rock que marcou de maneira pioneira o cenário do rock mundial por conta de só mulheres fazerem parte do lado artístico e de que representou as conquistas sociais de uma mulher que, cada vez mais, impunha seu estilo e personalidade numa sociedade amplamente dominada pelos homens, mas que se rendiam, obrigatoriamente, ao talento e atitude dessas cidadãs do oeste americano. 

Ainda foram sucessos da banda as canções American Nights, Saturday Night Special, Backlash e Hollywood. 

No site heavymetalcenter.net, está disponível para download toda a discografia pertencente às Runaways, inclusive com todas as músicas do disco Live in Japan. Segue link aqui. 

E no Youtube, encontramos o trecho do show da banda, em solo japonês, aonde Cherry Cure se apresenta trajando unicamente uma cinta-liga preta e um corsette branco:








0 comentários:

Postar um comentário