23 de jul. de 2011

Olga: a emoção da militante comunista

Por Priscila Muzykant

Emoção. Esse poderia ser apontado como o motivo de sucesso do filme Olga. O longa metragem é uma produção baseada na biografia Olga, escrita por Fernando Morais, tendo sido dirigido por Jayme Monjardim e lançado em 2004. O filme utiliza o momento histórico da Intentona Comunista muito mais como uma ambientação e ensejo ao romance da protagonista com Luís Carlos Prestes do que como uma forma de propor discussões ou reflexões aprofundadas acerca da temática. A revolucionária era alemã judia e deixou a família de classe média e uma série de regalias para dedicar-se ao comunismo. Dessa maneira, Olga é retratada como uma típica combatente militante de esquerda na primeira parte do filme, concentrando-se quase que exclusivamente à ideologia política da qual faz parte e negando sentimentalismos.

Cena do filme/Jaq Jones
 A estereotipia faz-se presente na construção dessa personagem. Entretanto, quando Olga conhece Prestes por ter sido designada a cuidar da segurança pessoal do combatente, há claramente uma modificação da protagonista, que passa a apresentar traços diferenciados de personalidade a partir de seu romance com Luís Carlos Prestes. A personagem principal dá espaço aos sentimentos e ao desejo de estar com a filha e poder viver efetivamente uma vida em família, como mãe e esposa. A transformação da protagonista é evidente no decorrer do filme, que é basicamente um drama comercial, com grande exploração dramática e que tem a clara meta de cativar o público e obter lucratividade. 

No filme, Olga Benário Prestes é retratada como uma heroína, como alguém com vida marcante e admirável por toda sua luta e ideologia política. Pode-se dizer que a protagonista passa a representar os anseios de muitos judeus que padeceram vítimas do nazismo alemão e que eram combatentes dessa ideologia. O filme explora significativamente a dramaticidade, fazendo com que o passado adquira toda uma carga de emoção, sentimentos, sofrimento, heroísmo, angústia, felicidade, desespero. Nessa intenção, recursos especiais da mídia permitem a criação das condições para que o espectador tenha a sensação de que está vivenciando os acontecimentos e não apenas os assistindo. 

Em Olga, nota-se que são explorados closes nos rostos dos personagens, evidenciando as emoções dos mesmos e fazendo com que se crie uma proximidade do público em relação à dramaticidade presente no enredo. Além disso, na primeira parte o filme tem cores mais sóbrias, mas com a mudança da personagem, o filme adquire um colorido condizente com o novo momento. Inclusive, os planos e contraplanos associados aos closes e a toda a carga dramática travam uma relação de identificação do público para com os personagens, o que certamente foi um fator relevante para o sucesso de bilheteria alcançado pelo longa metragem, tendo sido um filme conferido por mais de 3 milhões de espectadores. 

O filme Olga foi produzido pela Globo Filmes e congrega características e fórmulas típicas de produções hollywoodianas que garantem o sucesso para com o público. O diretor Jayme Monjardim tem longa tradição na produção de telenovelas na Rede Globo, tendo dirigido Pantanal e Roque Santeiro, dentre outros trabalhos. Assim, uma estética típica de obras de cunho teledramatúrgico é presente em Olga. Planos fechados são recorrentes em toda a construção fílmica, de maneira que detalhes de cenários não são explorados significativamente. Inclusive, a opção por muitos primeiros planos e closes dá-se em virtude da dramaticidade pretendida ao filme, mas também ao fato de as gravações do longa metragem terem sido realizadas no Rio de Janeiro, onde foram recriados locais como Alemanha e Rússia, de forma que a exploração de cenários não foi uma característica consideravelmente presente no filme. Isso se deu por razões de ordem econômica, um modo financeiramente mais viável para a filmagem. 

Um dos argumentos mais incisivos por parte da crítica de cinema alemã sobre as falhas da produção é de que o filme apresentou dramaticidade exagerada e previsibilidade de construção narrativa. Assim, muitos críticos afirmam que o modo de realização do filme não explorou de maneira eficiente uma história tão instigante e que incita curiosidade como a de Olga Benário Prestes. O longa metragem apresenta traços historiográficos, utilizando-se de técnicas cinematográficas que acabam por ultrapassar freqüentemente as descrições nos documentos históricos tradicionais escritos. Na realidade, o filme dramático nunca pode ser um reflexo, mas uma construção do passado. E é exatamente o que Olga faz. A cena inicial mostra Olga como criança, pulando uma fogueira, a despeito de ser advertida do perigo disso por seu pai. Nessa parte, é possível perceber a intenção pretendida no filme: retratar uma Olga Benário destemida, ousada e que mantém a essência inovadora, criativa e corajosa. O filme alcançou seus objetivos e agradou a um grande público, tendo seus méritos. Contudo, há pouca inovação na inserção de metáforas que possam aludir a uma reflexão mais aprofundada acerca da temática histórica, acabando por recair em uma estrutura narrativa pouco inovadora.

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