25 de jul. de 2011

It’s Mais: cultura no rádio para todos os gostos

Por Rodrigo Oliveira

Um programa inovador. A frase é a mais adequada para definir o programa It’s Mais, o espaço da Rádio Guaíba voltado para o público jovem universitário. De segunda à sexta-feira, das 22h às 23h30min, o apresentador João Batista Filho proporciona entrevistas e informações relacionadas à cultura para um público até então inexistente na emissora (e no rádio porto-alegrense também).

Estúdio durante gravação do programa It's Mais
Quando defino o It’s Mais como um programa inovador, não me refiro ao conteúdo. As pautas são muito parecidas com a maioria dos programas culturais do rádio brasileiro. Agenda, debate sobre temas da sociedade e entrevistas com artistas e músicas. Essa é a fórmula mais batida de programa de cultura da história do rádio brasileiro. O caráter inovador do It’s Mais está no público-alvo e no posicionamento perante a própria emissora. 

Pra começar, o It’s Mais é mais do que uma transgressão. É quase uma ofensa ao estilo Guaíba. A emissora é uma das mais tradicionais do Brasil e marcou o seu nome na história do rádio brasileiro pelo seu caráter elitista, formal e erudito. As músicas clássicas de Fernando Veronezi, as vozes aveluadas de Milton Ferreti Jung e Mário Mazeron, a perfeição estética da programação e o estilo formal e nada irreverente de Flávio Alcaraz Gomes e Amir Domingues colocaram a Guaíba na condição de excelência do rádio. Quando forem ouvir o It’s Mais, esqueçam tudo isso. 

O It’s Mais também destoa do estilo de programação da própria Guaíba atual. Ainda que a emissora tenha passado por muitas reformulações estéticas, desde a venda para a Rede Record em 2007, que a deixaram mais leve e informal, ainda assim a linguagem usada no microfone guaibeiro não é irreverente. Tanto na programação noticiosa, como na esportiva, o público médio da Guaíba é o de pessoas acima dos 40 anos.  
No caso do It’s Mais, é como se fosse uma outra rádio. 

O programa ancorado por João Batista Filho também aborda um nicho novo no jornalismo cultural do rádio porto-alegrense. Primeiro, porque há pouquíssimos programas de cultura na capital gaúcha. Na Gaúcha, havia o Gaúcha entrevista, que era comandado diariamente por Ruy Carlos Ostermann, um dos decanos do rádio gaúcho. No entanto, em no ínicio de julho o programa foi extinto. Na própria Guaíba, há o Sábado Total, semanalmente às 22h. Mas nenhum deles é voltado para o público jovem. 

A Rádio Atlântida não é propriamente uma emissora voltada para o jornalismo cultural. No entanto, ainda assim há programas de cunho cultural voltados para o público jovem. A questão é que o enfoque é no público de colégio. O It’s Mais possui uma proposta de abordar os jovens um pouco mais velhos, que estão na faculdade e se iniciando no mercado de trabalho. Por conta disso, o It’s Mais já adquire a condição de inovador no aspecto do público-alvo. 

Há uma outra peculiaridade no It’s Mais. O programa não é voltado para tribo. Ou então se pode dizer que é voltado para todas as tribos. O ouvinte não pode ter aversão a nenhum, absolutamente nenhum tipo de música. Já foram entrevistados in loco artistas como Klaus e Vanessa, Chimarruts, Luan Santana e Restart, além de outras bandas de menor expressão de praticamente todos os estilos musicais. Além disso, o programa deu espaço para músicos que não tem absolutamente nada a ver com o público jovem, como Osvaldo Montenegro e Victor Ramil. No entanto, as entrevistas sempre são conduzidas com linguagem apropriada para os jovens. É uma clara intenção de trazer para os jovens temas que não são propriamente de jovens.
Cantor sertanejo Luan Santana é entrevistado no programa
Mas esse caráter eclético não se restringe a música. Tudo no It’s Mais é eclético. Trata-se de um programa imprevisível. O programa de hoje é totalmente diferente do programa de ontem. E o de amanhã será completamente diferente de hoje. Isso causa expectativa no ouvinte e contribui para o sucesso do programa. 

Diversos assuntos são abordados, não necessariamente apenas música. Uma estratégia que é freqüentemente adotada pelo programa é a de trazer temas para debate. Certa feita, foi entrevistado um terapeuta de casal sobre relacionamentos. Em outro momento, um ex-usuário de drogas deu entrevista sobre dependência química. Lembro também de uma entrevista com um orientador vocacional sobre a escolha da profissão. Também já foi aos estúdios o pessoal de uma agência de turismo falar sobre intercâmbio no exterior para jovens. Essa imprevisibilidade de pautas e temas cria uma expectativa no ouvinte e torna o programa mais dinâmico. 

Os únicos momentos previsíveis do programa são os quadros fixos. A previsão do tempo, com a produtora Márcia Barros, e os destaques do Correio do Povo com Eugênio Bortolon são atrações diárias. E toda a segunda-feira, o enfoque cultural tira folga e aí ocorre o debate semanal de futebol do It’s Mais, com diversos convidados e em tom descontraído. 

O It’s Mais surgiu em 2010 e fez parte de um projeto da Rede Record de se expandir para o público jovem na região Sul. A ideia tomou corpo com o projeto It’s. Foram criados cadernos de jornal, revistas, programas de TV e de rádio com o nome It’s, nos veículos da Record, no Paraná e em Santa Catarina. Todos eram voltados para o público jovem de colégio. 

No Rio Grande do Sul, o planejamento adotado foi diferente. Como a RBS possui o Kzuka, projeto voltado exatamente para o público colegial, a Record resolveu apostar no público universitário, para abordar um mercado ainda não explorado no Rio Grande do Sul. Para diferenciar dos projetos catarinense e paranaense, no RS o nome virou It’s Mais. A partir daí, foram criados em 2010 o caderno It’s Mais no Correio do Povo (que é publicado toda quarta-feira) e o programa It’s Mais na Rádio Guaíba. 

O It’s Mais é um programa de qualidade que aborda um mercado que não havia sido explorado. Além disso, um dos pontos positivos é o caráter eclético, englobando uma variedade muito grande de temas e estilos. Ao mesmo tempo que isso é um ponto positivo, pode impor algumas dificuldades. 

Públicos específicos dificilmente vão se fidelizar com o It’s Mais. Por exemplo, quem adora reagge, mas não suporta hardcore, vai adorar a entrevista com o pessoal da Chimarruts. No entanto, vai quebrar o rádio quando o pessoal do Restart estiver sendo entrevistado. 

Porém, o público mente aberta, sem preconceito com qualquer tribo ou estilo de vida diferente, e o pessoal que é aberto para novas informações e assuntos vão se sentir em casa no It’s Mais. 

Trata-se de um programa para jovem, mas também para todos os estilos e todos os gostos. E, acima de tudo, é um programa inovador.

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