6 de jul. de 2011

Nós fracassamos

Por Cíntia Warmling

“Tente. Fracasse. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor.” A frase de Beckett é usada na peça “O Clube do Fracasso” (Cia. Rústica, direção de Patrícia Fagundes) e se encaixa perfeitamente ao enredo. Ambientado em um bar, incluindo a plateia no cenário, o espetáculo é uma exposição do que é mais comum e inevitável: o fracasso. Uma crítica à supervalorização do sucesso na nossa sociedade. O grupo recentemente fez três premiadas abordagens a peças de Shakespeare. Agora, em um novo projeto, “Clube do Fracasso” é a primeira parte da Trilogia Festiva, que busca abordar assuntos como o fracasso a morte e o caos de forma leve. Explicitando a fragilidade humana de forma cômica.

Divulgação/Alex Ramirez



É criado um ambiente de confissão ao longo da peça. Não existem personagens fictícios, os atores usam os próprios nomes e as próprias histórias para propor ao público o que é o fracasso. A própria construção do roteiro foi assim, a montagem da peça se deu a partir de ensaios com material trazido pelo próprio grupo, se expondo ainda mais do que já é comum nessa profissão. A fragilidade e efemeridade das pessoas e todos os pequenos fracassos que tentamos esconder. O ridículo, o erro e a decepção, apresentados de uma forma crua e por isso mesmo ainda mais tocante para o espectador.

A peça é dinâmica, utiliza efeitos visuais a partir de projeções de entrevistas e imagens. Até uma apresentação de Power Point, ironizando os guias e manuais de auto-ajuda, que traz uma explicação sobre o sucesso, e como alcançá-lo em algumas semanas. A iluminação é simples e conta com o reforço de uma lanterna utilizada pelos próprios atores para criar focos de luz. A maior parte da sonoplastia é feita pelos atores em cena, utilizando diversos instrumentos, como teclado, guitarra, gaita entre outros. Foram criadas oito canções próprias, assinadas pela musicista Simone Rasslan. Além da trilha sonora original também são apresentadas músicas diferentes, Edith Piaf, Janis Joplin, todas elas como referências para mais uma história, ou mais uma constatação do fracasso. Além de números cantados e com performances coreografadas.

O movimento dá o ritmo da peça, são encenadas, coreograficamente, as histórias contadas pelos personagens. Um belíssimo trabalho feito em conjunto com Cibele Sastre, preparadora corporal e coreógrafa da peça. As mudanças de figurino também são feitas em cena, e caracterizam algumas das histórias contadas, como o jogador de Tênis que busca a raquete e os palhaços que colocam seus narizes vermelhos. Um elemento do figurino é particularmente mais cômico, a cabeça de Zebra. Uma provável referência à gíria popular para o fracasso: deu zebra. Heinz Limaverde é um destaque na peça, com uma presença forte, parecia capaz de guiar o espetáculo somente com sua atuação. Isso, no entanto, não era necessário, o entrosamento dos atores era grande o que aumentava a sensação de confissão diante da plateia.

A partir de sugestões de jogos como: pequenos fracassos, fracassos no amor os atores contam suas histórias, leem cartas, cantam e convidam a platéia a acompanhá-los em suas reflexões. O espetáculo começa com um aspecto cômico, de apresentação das histórias de fracasso até o momento de aceitação de que o fracasso é algo inevitável. E que a partir deles, e do que fazemos diante de cada fracasso, vamos construindo nós mesmos, da mesma forma que a peça foi construída a cada ensaio e reunião do grupo. Ironicamente, “O Clube do Fracasso” é um sucesso. Tente outra vez, fracasse melhor.

Divulgação/Alex Ramirez

0 comentários:

Postar um comentário